fico pensando que devo dizer a mim mesmo meias verdades
mas eu não sei o que não são meias verdades
se cantam uma cantiga de natal lá fora
ponho-me triste
- meu irmão quisera eu saber
por que não não cantas um samba de breque
um fado
um baião
um rock
um frevo (como o dos carnavais do recife)
uma marcha-rancho
ou qualquer outra merda
que hoje me faça dormir em paz
sem que me venha à cabeça esta data?
esta data?!
mas meu deus que data?!
tenho alguma conta a pagar amanhã?!
devo no mercado?!
algum encontro marcado comigo?!
ora se não tenho nada disso foda-se
quero a liberdade do meu nariz
andando a pé pelas ruas
sem remorso
de ignorar a terrível Noite Feliz
(há canções que são de inteiro mau gosto)
por que esta noite há de ser feliz?
saio pelo bairro onde moro
as luzes das casas estão todas acesas
porque por obrigação quase litúrgica
esta noite exige que todos sejam felizes
: queria só um maço de cigarros
um gole de uísque
quem sabe eu escreva uma prece
(quem sabe? - não garanto e nem estou obrigado)
àquele que nasceu pobre
miserável
numa estrebaria
em belém que não conheço
e por certo nunca vou conhecer
que não deixe que façam uma noite de mentira
de árvores e lâmpadas falsas
mas que ponha na consciência dos homens
um pouco de boa vontade
e faça o mundo feliz
(merda!)
noite feliz uma ova!
(manhê essa farofa me deu azia)
_________________
júlio, 1976, publicado no Jornal Iniciativa Privada, do movimento Poesia Marginal, postado como o movimento exigia, nos banheiros públicos de são paulo, iniciativa do poeta aristides klafe.
'Pra não dizer que eu não falei de flores' - Geraldo Vandré
http://www.youtube.com/watch?v=g8v5twPc-io
uma verdade inteira. além da farofada, essa felicidade se pinta de um dourado tão cafona. o teu poema é uma verdade inteira. não gosta deste? eu gosto deste. beijo.
ResponderExcluirvocê bem sabe, linda drica, que tenho fascínio pelo sofrimento. é quase uma doença. ou é uma doença que não tem cura. morro com ela.
ResponderExcluirte adoro,
j.