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quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

ANA CRISTINA CESAR, ENTRE A TERNURA E O DESESPERO



"O que mais queima: a pedra de gelo ou o ferro em brasa? Vulcão de neve. Ela não foi - ela fica - como uma fera."
               - Armando Freitas Filho -



Ela era linda, culta, de inteligência fora do comum. Ana Cristina Cesar ou Ana C foi uma das vozes mais significativas do que se chamou Poesia Marginal dos Anos 70. Às vezes frágil como uma porcelana, às vezes parecia feita de ferro. Sabia ser terna e também irônica, conforme seus escritos revelam. Nasceu no Rio de Janeiro, a 2 de junho de 1952, numa família de classe média. Aos 4 anos já ditava poemas para a mãe. Precoce, aos 7 começou a ter seus primeiros poemas publicados, no Suplemento Literário do jornal Tribuna da Imprensa. Cursou a faculdade de Letras, lecionou inglês e português, viajou várias vezes para o exterior. Traduziu Katherine Mansfield, Emily Dickinson e Sylvia Plath. Também exerceu o jornalismo, colaborando principalmente em veículos da chamada imprensa alternativa da época. Participou da antologia 26 Poetas Hoje (1976), organizada pela professora Heloisa Buarque de Hollanda, ao lado de poetas como Cacaso, Capinan, Torquato Neto e Isabel Câmara. Ousada, sua poesia, sem linguagem rebuscada, porém de extrema elegância, percorreu os caminhos do lirismo, da sensualidade e da irreverência, mas sempre com luz própria. Ana C está, sem dúvida, entre os dez mais importantes poetas brasileiros contemporâneos. No entanto, no dia 29 de outubro de 1983, ela se cansou. Tinha só 31 anos, mas se cansou. Antes, falou ao telefone com seu amigo e confidente, o também poeta Armando Freitas Filho. Disse que estava bem, parecia feliz. Pouco depois, dirigiu-se à janela do apartamento de seus pais, no 7º andar de um prédio, no Rio de Janeiro, e resolveu voar. E voou, para não voltar nunca mais.

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Júlio Saraiva,
São Paulo, Brasil
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