“O universal é o local sem paredes.” (Miguel Torga) "Escrever é um ato de liberdade." (Antônio Callado) "Embora nem todo filho da puta seja censor,todo censor é filho da puta." (Julio Saraiva)

segunda-feira, 31 de maio de 2010

5 DÚVIDAS INÚTEIS

1.

como será o azul
do céu de seul?

2.

e se eu me atirasse deste viaduto
minha namorada vestiria luto?

3.

que pensarás tu amor se me vires
perdido e só nos arcos do arcoíris?

4.

que mal faz ao crítico
o poeta lírico?

5.

sem remo sem rumo como navegar
agora júlio velho lobo do bar?

__________________
Júlio Saraiva,
São Paulo, Brasil
___________________

BRINQUEDO

cata
vento
cata
brisa
cata
chuva
cata cata
temporal

cata
sombra
cata
noite
cata cata
tudo igual

cata
amor
cata
medo
cata
tempo
cata
morte
cata cata
catavento

_________________
Júlio Saraiva,
São Paulo, Brasil
__________________

domingo, 30 de maio de 2010

treino

Ola exercício número um
Exame vestibular
Prova difícil
Errei tudo
Zero
_______________________
Diana Ballis,
Rio de Janeiro, Brasil
________________________

sexta-feira, 28 de maio de 2010

SONETO DE JÚLIA

flor da manhã invadiu o poema
é que me perdi nos caminhos de mim
e se vou ronco e durmo no cinema
é porque do filme não me importa o fim

não estou pra nenhum telefonema
a minha voz tão velha e rouca é ruim
tropeço na rima e fujo do tema
por que minha vida há de ser assim?

desregrada e sem qualquer noção de hora
e desabo no escuro do meu verso
e chegando estou sempre a ir embora

fio de sonho nenhum mais tenho agora
a sós com meus fantasmas eu converso
deixo-te este soneto - e noves fora

_________________________
Júlio Saraiva,
São Paulo, Brasil
__________________________

quinta-feira, 27 de maio de 2010

1 POEMA EM PORTUGUÊS DA GALIZA

de loito cuberta
a noite
cando as auguas non cantan
nas soaves cordas
do vento


e un páxaro polo meu peito
cal lobo famento
arrincame o pensamento
pola lengua que eu falo


__________________
Xavier Zarco,
Portugal
___________________

terça-feira, 25 de maio de 2010

Manhã

O sol navega nas nuvens que o espreitam
O menino pede pão na manhã dos transeuntes
A carroça passa cheia de resgate do lixo
O cavalo parece desconhecer a cidade do Rio de Janeiro
Os camelos já preparam suas barracas na Cinelândia
Berço de políticos, e quem sabe poetas boêmios sambistas
A cidade é azul como um cordel de bandeiras em festa
Miro está de passagem à espera do futebol
Brasil! Grita o bêbado sem noção na Praça Tiradentes
O jogo acabou, responde à senhora impaciente
O vento sopra noroeste e o sul fica longe pacas
A moça sentada na praça, dá comida aos pombos, que desgraça!
A cachaça acabou, caímos todos nas areias de Ipanema
O mundo entre duas montanhas sempre soa suave
O povo despede das caminhadas ao trabalho diário
Venhamos nós que esse Reino é de todos
Vai para casa, circulando, o tempo é outro seu guarda
Mas a lembrança, conservo na caixinha de música
Toca e dança a bailarina do teatro Municipal
O sino da Igreja São Francisco Xavier badala
Acorda mãe! Já é hora de levantar!

Diana Balis em dias comuns. Rio de Janeiro,25 de maio de 2010.

sábado, 22 de maio de 2010

NA MORTE DA MINHA MÃE

Numa tarde de janeiro, entro na unidade de terapia intensiva de um hospital. Minha mãe está quase morta. Entubada. Os olhos já não abrem. Em vão, tento reanimá-la: "Mãe, sou eu."
Os olhos cada vez mais cadavéricos continuam sem brilho. Há um homem ao lado também agonizando, no mesmo final que ela. Peço à enfermeira, uma menina loura e bonita, que me deixe descer um pouco para beber alguma coisa.
A filha do homem, que também agoniza ao lado, desce junto e pede um café. Sabemos que o final dos dois será o mesmo. Só não sabemos o destino, o cemitério Serão caminhos diferentes que o carro fúnebre irá levar
. A menina volta à uti, aperta a mão do pai em agonia. Já não faço o mesmo com a minha mãe. Mas lhe beijo a face quase fria. Está morta. A enfermeira loura me diz que o médico quer falar comigo, porém teme minha reação.
Eu peço a ela que o deixe vir. Desce um moço recém-formado. Sirvo-lhe de pai. É taxativo comigo:
"Eu não posso fazer mais nada. Os rins estão paralisados. Os pulmões parados. Ela vai morrer."
Para o espanto do jovem médico, que assinou o óbito, eu digo:
"Por favor, desligue tudo. E dê a ela uma morte digna."
Ele me responde que não pode fazer isso, mas meia hora depois me liga:
"Sua mãe entrou em óbito."
Claro que fez o que devia fazer. E o fez com sua dignidade ainda de menino.
Saí de volta ao hospital. Olhei minha mãe no necrotério. Pedi que lhe descobrissem a cabeça. Só queria ver o rosto. Ainda era belo. Quando lhe veio o caixão, pedi apenas que lhe quebrassem os ossos. O corpo estava muito inchado. Não podiam fazer. Trocaram o caixão. Voltei pra casa. Quando fui ao velório, chorei um pouco escondido. E percebi,pela primeira vez.  Percebi, que já tinha cinquenta e três anos. Era um homem feito.

_______________________
Júlio Saraiva,
São Paulo, Brasil
________________________

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Pássaro Preto

Numa festa o vi passar
Era de fazer pensar
Olhei cabisbaixa, nem ligou
Rente, segue em frente, voou
Lá vai seu Doutor!
Arrasou o encantador
_____________________
Diana Ballis,
Rio de Janeiro, Brasil
_____________________

SILOGISMO

Em comum a mesma dor de corte fundo.
Cada qual com sua canga,
Homem e boi nada esperam deste mundo.

______________________
Júlio Saraiva,
São Paulo, Brasil
_______________________

POEMA

no espelho Alice clama por liberdade
dá uma cambalhota
quebra as amarras
manda à merda o coelho
e me convida pra farra

________________________
Rosangela Borges,
São Paulo, Brasil
_________________________

A FLOR E O ESPINHO

Tire o seu sorriso do caminho
Que eu quero passar com a minha dor
Hoje pra você eu sou espinho
Espinho não machuca a flor
Eu só errei quando juntei minha alma à sua
O sol não pode viver perto da lua
É no espelho que eu vejo a minha mágoa
A minha dor e os meus olhos rasos d'agua
Eu na sua vida já fui uma flor
Hoje sou espinho em seu amor...

http://www.youtube.com/watch?v=lFYDp0jhrhw


_______________________________________________
Nelson Cavaquinho, Guilherme de Brito e Alcides Caminha,
poetas e compositores populares, Rio de Janeiro, Brasil, Mundo.
Não coloco a música, que é linda, e nem  a foto dos três, porque
não sei colocar. Sou péssimo em computador.
_________________________________________________

DESENCONTRO

A sua lembrança me dói tanto
Que eu canto pra ver
Se espanto esse mal
Mas só sei dizer
Um verso banal
Fala você
Canta você
É sempre igual
Sobrou desse nosso desencontro
Um conto de amor
Sem ponto final
Retrato sem cor jogado aos meus pés
E saudades fúteis
Saudades frágeis
Meros papéis
Não sei se você ainda é a mesma
Ou se cortou os cabelos
Rasgou o que é meu
Se ainda tem saudade
E sofre como eu
Ou tudo já passou
Já tem um novo amor
Já me esqueceu

________________________
Chico Buarque de Hollanda,
do Brasil, do Mundo
_________________________

segunda-feira, 17 de maio de 2010

A LUZ

Devagarosa a luz,
a luz, tão negra, vacila, cai
de bruços derreada:

arrefece o olhar,
rasura, cega; e pára, brusca-
mente: ao rés do nada.

_____________________
Domingos da Mota,
Vila Nova de Gaia, Portugal
______________________

RELAÇÃO DE ALGUNS BENS DO POETA

uma pilha de poemas impressos
outra dos que foram perdidos
e mais outra dos que ficaram por escrever
uma prateleira com sonhos queimados
quarenta e cinco amores frustrados
um relógio sem ponteiros
um gato imaginário que mia em silêncio
um pássaro empalhado com a asa esquerda  partida
uma mala de couro pronta para a viagem sem volta

__________________
Júlio Saraiva,
São Paulo, Brasil
__________________

sábado, 15 de maio de 2010

MODINHA OU NO CAMINHO DE DRUMMOND

A partir do poema Também já fui Brasileiro, de Carlos Drummond de Andrade


eu queimei o tempo
como quem brinca de roda
como quem joga pedra
no telhado do vizinho
eu queimei o tempo

eu me afoguei na lua
astronauta sem vocação
fui procurar são jorge
só encontrei o dragão
eu me afoguei na lua

eu dancei com a dama de paus
num baile de debutantes
mas antes do fim do baile
a dama desencantou
eu dancei com a dama de paus

eu fui poeta aos vinte anos
quando todo mundo é poeta
pensava um sorriso de moça
e a poesia me vinha no ar
eu fui poeta aos vinte anos

eu queimei o tempo
eu me afoguei na lua
eu dancei com a dama de paus
eu fui poeta aos vinte anos
eu fui e fiz tanta coisa
que hoje me dá pena lembrar

___________________
Júlio Saraiva,
São Paulo, Brasil
___________________

sexta-feira, 14 de maio de 2010

MEMORIAL

"Sei de passado e de porvir, quanto um homem pode saber.
Conheço enfim o meu destino e a minha origem.
Nada me sobra para profanar, nada para sonhar."

- Giuseppe Ungaretti -


nada mais espero de mim
nada mais espero de ti
a manhã que acontece lá fora
é igual a todas as outras que vivi

um poeta não se constrói apenas
com boas intenções
também o amor não vive
só de boas intenções

perdão: não me interessa mais
saber que dia é hoje
da janela vejo com tristeza
as crianças que brincam na praça

hoje entendo que a minha poesia
foi um exercício de inutilidade plena
vivi meio século dividido
entre o ócio e o desespero
desci ao inferno várias vezes
fui o morto esquecido que ninguém reclamou

abusei de mim quando não devia
demorei a descobrir que em todos os carnavais que inventei
fui eu apenas eu o grande folião
o destaque maior  dançando comigo mesmo
nos bailes de mascarados

_____________________
Júlio Saraiva,
São Paulo, Brasil
_____________________

quinta-feira, 13 de maio de 2010

31 DE MARÇO DE 1974, NO 10º ANIVERSÁRIO DA DITADURA MILITAR NO BRASIL

"Brasil, ame-o ou deixe-o."

- slogan criado pela ditadura militar -


mas que me importa a roupa suja do poema
espalhada pelo chão do quarto de dormir?
a minha vida tá por um telefonema
bosta! - fala que eu não tô desisto de existir

agora esquece: se esconde em qualquer cinema
e caso a pipoca esteja dura de engolir
avisa que eu saí na Banda de Ipanema
tomei além da conta só pra me distrair

porém se a polícia bater na tua porta
ninguém nunca me viu nem ouviu falar de mim
não sabes baby como isso me desconforta

põe fogo nos livros  dói mas tem de ser assim
chegou tarde tarde demais inês é morta
vou m'embora correndo pra guajará-mirim

____________
Júlio Saraiva,
São Paulo, Brasil
__________________

ENCANTE

Tudo o que em Kant é beleza
É-o por natureza
Do amante.

________________
Mário Osorio,
Lisboa, Portugal
________________

quarta-feira, 12 de maio de 2010

POEMA SOBRE UM POEMA DE ANNA AKHMÁTOVA (*)

Canção da Despedida

Não ri e não cantei:
fiquei o dia inteiro calada.
Mais do que tudo queria estar contigo
de novo desde o começo.
Irrefletida a primeira briga,
absoluto e claro delírio;
silenciosa, insensível e rápida,
nossa última refeição.

Anna Akhmátova,
tradução do russo por Lauro Machado Coelho


não há motivo pra chorar agora
: a última refeição ficou esquecida sobre a mesa
nossos silêncios reclamavam nossas ausências
no entanto estávamos lado a lado
levo minha roupa amassada na mochila
o mais difícil será esquecer a capacidade
que tínhamos de sorrir por qualquer bobagem
(de agora em diante prometo deixar de gostar de
berinjela ao forno só pra não sentir o sabor ruim
da tua saudade)

__________________
Júlio Saraiva,
São Paulo, Brasil
_________________

(*) Anna Akhmátova (1889-1966), pseudônimo literário de Anna Andrêivna Gorienko, foi da vozes mais significativas da poesia russa moderna. Mesmo contrária à revolução bolchevique, Anna sempre mereceu respeito e carinho de seus pares de ofício, simpatizantes ao novo regime. Perseguida, várias vezes, e tendo chance de fazê-lo, foi aconselhada a deixar o país. No entanto, ela jamais se afastou da Rússia, mesmo tendo marido e filho presos e desaparecidos na Sibéria.

terça-feira, 11 de maio de 2010

RESPONSO I

A cor roxa dos cuidados
bate à porta para
anunciar quaresmas.

A cor roxa dos  cuidados
fala pela boca
álgida do medo

(O medo é sonâmbulo como os rios...)

A cor roxa dos cuidados
recita o Dies Irae
e os cães ladram

A cor roxa dos cuidados
está sempre a nos dizer
                        - Cuidado!

_________________________
Júlio Saraiva,
São Paulo, Brasil
__________________________

RESPONSO II

Ó noites longas e frias
feitas de conventos
& capuchos cabisbaixos!

Ó sequito de verônicas dementes
chorando lágrimas de peixes
pelas pernas frouxas!

Ó homens! Ó homens!
- bois penitentes -
ruminando pelos séculos
o pão de cada dia!

_____________________
Júlio Saraiva,
São Paulo, Brasil
_____________________

sexta-feira, 7 de maio de 2010

SANTA INOCÊNCIA

"Minha pátria é minha infância:
Por isso vivo no exílio."

- Cacaso -

não sou filho do medo
sou filho da puta mesmo
em criança eu adorava fazer barcos de papel
só pra vê-los afundar nos dias de chuva
imaginava toda a tripulação morta
gravetos lixo restos de qualquer coisa
tudo era um cadáver boiando...
nos naufrágios da minha infância
não havia sobreviventes
depois dei de arrancar rabo de lagartixa
só porque tremia na minha mão
e eu sentia uma espécie de orgasmo
sem saber o que era orgasmo
teve quando uma empregada de casa
me chamou no banheiro
ela tava tomando banho
vi aquela coisa peluda no meio das pernas dela
e comecei a achar graça
era um bicho uma taturana gigante
ela começou a esfregar o dedo naquilo
e eu pensei que estivesse queimando
porque ela gritava muito
então me ri mais ainda
depois teve uma época que eu conversava com deus
mas deus era muito chato porque gostava de apontar o dedo na minha cara
apaguei deus da memória quando ganhei uma cachora viralata
era bonita e brava  - não deixava ninguém chegar perto de mim
nem minha mãe
esse deve ter sido o motivo principal de deus ter-se afastado de mim
porque ele também rompeu comigo
se deus apontasse o dedo na minha cara minha cachorra avançava nele
mas no fundo no fundo eu via ternura em tudo
por isso sofria de tristeza e chorava no meu quarto todas as noites
eu tinha certeza no entanto que nunca ia ficar adulto
era a única coisa que me alegrava
uma noite fui dormir muito tarde
e quando acordei na manhã seguinte
percebi que havia pelos em algumas partes do meu corpo
senti medo de mim pela primeira vez
medo de virar bicho
não bicho como a minha cachorra
bicho como qualquer adulto

________________
Júlio Saraiva,
São Paulo, Brasil
_______________

CADAFALSO

Sou bárbaro às portas de Roma
Na escura noite vela acesa
Druida celta guardiã do rito
Sou pirâmide, sou Egipto
89 e a comuna francesa
De antigos males sou a soma
- Bárbaro às portas de Roma -
E a alma a carpir grandeza.

__________________
Mário Osorio,
Lisboa, Portugal
_________________

AO ALEXANDRE O'NEILL DE NOVO

"Quando a noite resignada
abria a última pálpebra
gritei ainda: "Mas é isto o espelho!"

- Alexandre O'Neill -


o poeta morria
destino de todos nós
pois o'neill estava morto
tinha passaporte pro céu
foi quando um anjo lhe disse:
- Aqui o senhor não faz graça...
o poeta sorriu
- Posso então fazer um versinho?
o anjo tossiu e disse que podia
o poeta acendeu um cigarro que havia escondido no bolso
do seu fato de morto:
- Vá pra puta que te pariu...

e preferiu o inferno

______________________
Júlio Saraiva,
São Paulo, Brasil
______________________

quarta-feira, 5 de maio de 2010

AQUELE PUNHAL DE PRATA...

aquele punhal de prata
que trazias dentro dos teus olhos
ainda está espetado nas minhas costas
é que o confundi
tamanho era o brilho
com a luz de alguma estrela
jamais imaginei que pudesse ser uma arma branca
pontiaguda
mas acontece que agora
eu não consigo mais gritar
não tenho mais força nenhuma
e o punhal ficará nas minhas costas
enterrado para sempre

__________________
Júlio Saraiva,
São Paulo, Brasil
__________________

AMANHÃ...

amanhã
quando eu morrer de overdose
ou de qualquer outra coisa
guarda na tua carteira
o meu último poema
como um retrato sem cor
esquece meu olhar assustado
as noites que passei em claro
e o meu jeito triste de ser

amanhã
minha amada eu serei apenas ontem
mas não conta a ninguém que fui mau poeta
que bebia de cair na rua
e por muito pouco não fui parar na sarjeta
havia uns poucos dinheiros de família
para um funeral mais honesto

amanhã
minha flor quando o sol não se abrir aos meus olhos
fala aos amigos
que a vida é assim mesmo
afinal mais dia menos dia tinha de acontecer

amanhã
minha linda amanhã...
peço-te não chores e nem te debruces sobre o meu corpo
o corpo perece
e no dia seguinte dele ninguém se lembra
amanhã...

amanhã
minha estrela amanhã...
vai até à java
pede ao bom amâncio um copo de vinho
bebe-o todo por mim
manda pendurar na minha conta
e diz que eu descansei quase em paz

__________________
Júlio Saraiva,
São Paulo, Brasil
__________________

segunda-feira, 3 de maio de 2010


http://www.youtube.com/watch?v=Ml6TeafD0n8
perdoa-me
sabes como sou covarde
e não vou a cemitérios
perdoa-me
perdoa-me desta fraqueza
de homem já velho
que olha numa moldura na sala
o menino que fui
querendo sempre o teu colo
hoje teu nome não é ausência
é lembrança
o teu menino está mais triste
com os olhos voltados para o mar
como a tela que um dia mandaste pintar
(lembras-te?)
nossa casa pertinho do parque
não existe mais
a rua mudou ou morreu (quem sabe?)
e o pai com o olhar tão severo mas bom
também hoje é memória
meus cabelos na frente rarearam
a barba que deixei crescer e que não gostavas
está branca
ainda abuso demais da bebida e do cigarro
- fragilidades de homem não contam -
no teu dia mãe therezinha
peço-te que me desculpes pelos poemas sem jeito
apinhados de palavrões que escrevi
pela minha descompostura com as visitas na sala
e pela minha falta de deus
peço-te que ignores as mulheres todas que amei
e jurei sem cumprir amor eterno
hoje que o teu nome é lembrança
eu queria ir às nuvens e colher o impossível
um pouco do teu ombro do teu mimo
mas vou ficando por aqui sonhando o impossível
te amo

domingo, 2 de maio de 2010

MORTE

A vida balança em cadeiras
Na rede descansa o Índio do Ceará
O tempo é quente na praia
O dia é para comemorar
A mãe só chora, chora...
O lamento é morte incontida
Como fazer para crer que nessa vida
O amor era maior
Pelo seu único filho pagão?
Sentimentos de culpa, limites ou perdão
No sofrimento que se aflige
A vida, e sua lida, seguem sem noção.

Diana Balis, Rio de janeiro,2 de maio de 2010.

Compartilhe o Currupião