quinta-feira, 23 de agosto de 2012
TEMPO
o tempo está cansado
de ser tempo
de dar tempo
ao tempo
o tempo principalmente
está cansado
de sofrer de tanto
contratempo
o tempo não aguenta mais
perder seu tempo
perdoando o tempo
e ver passar o tempo
como se a vida fosse
só um passatempo
o tempo fechado no mau tempo
ignora as previsões
e cai fora do tempo
procura um outro tempo
e por saber que não há mais tempo
senta-se no vazio e põe-se
a matar o tempo
23-08-12
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Júlio Saraiva
São Paulo, Brasil
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quarta-feira, 22 de agosto de 2012
AGNUS DEI
agnus dei
dai-me asas
asas leves
para voos
sempre breves
agnus dei
dai-me a moça
da janela
não me importo
se ela é pura
ou cadela
agnus dei
dai-me a infância
que perdi
vendo coisas
que eu menino
não devia ver
mas vi
agnus dei
dai-me um porre
sem ressaca
que eu tenho
alguma idade
e a cabeça
já vai fraca
agnus dei
fazei de mim
vilão da história
que eu nasci
torto assim
e me sinto bem
junto da escória
agnus dei
dai-me a paz
mas não a paz
do homem sério
esta eu dispenso
pois se bem penso
hei de tê-la
no cemitério
02-10-09
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Júlio Saraiva,
São Paulo, Brasil
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dai-me asas
asas leves
para voos
sempre breves
agnus dei
dai-me a moça
da janela
não me importo
se ela é pura
ou cadela
agnus dei
dai-me a infância
que perdi
vendo coisas
que eu menino
não devia ver
mas vi
agnus dei
dai-me um porre
sem ressaca
que eu tenho
alguma idade
e a cabeça
já vai fraca
agnus dei
fazei de mim
vilão da história
que eu nasci
torto assim
e me sinto bem
junto da escória
agnus dei
dai-me a paz
mas não a paz
do homem sério
esta eu dispenso
pois se bem penso
hei de tê-la
no cemitério
02-10-09
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Júlio Saraiva,
São Paulo, Brasil
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sábado, 18 de agosto de 2012
OLHOS CEGOS SOBRE TELA
dentro do azul destes olhos mora o perigo
capaz de devorar a luz de qualquer dia
por milagre do artista bênção ou castigo
não me canso de olhar e caio em letargia
tão profunda que até me esqueço do castigo
por cobiçar o azul que causa letargia
deste par de olhos que me alerta do perigo
de ver cego e sem luz meus olhos qualquer dia
o artista já se foi... partiu também num dia
os olhos que pintou ficaram por castigo
ou bênção - mas na dúvida talvez perigo
da inveja do azul destes olhos-letargia
insana minha cobiça enfrenta o castigo
de ver cego e sem luz meus olhos qualquer dia
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Júlio Saraiva
São Paulo, Brasil
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capaz de devorar a luz de qualquer dia
por milagre do artista bênção ou castigo
não me canso de olhar e caio em letargia
tão profunda que até me esqueço do castigo
por cobiçar o azul que causa letargia
deste par de olhos que me alerta do perigo
de ver cego e sem luz meus olhos qualquer dia
o artista já se foi... partiu também num dia
os olhos que pintou ficaram por castigo
ou bênção - mas na dúvida talvez perigo
da inveja do azul destes olhos-letargia
insana minha cobiça enfrenta o castigo
de ver cego e sem luz meus olhos qualquer dia
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Júlio Saraiva
São Paulo, Brasil
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sexta-feira, 17 de agosto de 2012
POEMA A OLHO NU
teu olho nu
ilude o poema
iludes as palavras
: estrelas presas
na lente do telescópio
que não tens
navegas
por turbulentos mares de vírgulas
exclamações te ufanam
interrogações te protegem
como um exército
armado de dúvidas brancas
que importa a hora
no relógio
do antigo mosteiro
se dentro deste teu olho nu
o tempo deixou de existir?
que importa o tempo?
a sarjeta descobre-te
a sarjeta deseja-te
melhor assim
: olho por olho
elas por elas
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Júlio Saraiva
São Paulo, Brasil
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ilude o poema
iludes as palavras
: estrelas presas
na lente do telescópio
que não tens
navegas
por turbulentos mares de vírgulas
exclamações te ufanam
interrogações te protegem
como um exército
armado de dúvidas brancas
que importa a hora
no relógio
do antigo mosteiro
se dentro deste teu olho nu
o tempo deixou de existir?
que importa o tempo?
a sarjeta descobre-te
a sarjeta deseja-te
melhor assim
: olho por olho
elas por elas
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Júlio Saraiva
São Paulo, Brasil
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quinta-feira, 16 de agosto de 2012
SONETO DA MATURIDADE
só por acumular erros antigos
já nem dou conta que a velhice é fato
ao longe avisto amadas e amigos
todos sorrindo no mesmo retrato
não temo a morte nem temo castigos
vou procurando manter-me sensato
planto maçãs onde nasciam figos
se hoje ressuscito amanhã me mato
torto é meu andar como este soneto
pouco se me dá se é de pé quebrado
a linha reta transformei em arco
não quero regras nem branco no preto
sou absoluto não troco de lado
e sigo só por conta do meu barco
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Júlio Saraiva
São Paulo, Brasil
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já nem dou conta que a velhice é fato
ao longe avisto amadas e amigos
todos sorrindo no mesmo retrato
não temo a morte nem temo castigos
vou procurando manter-me sensato
planto maçãs onde nasciam figos
se hoje ressuscito amanhã me mato
torto é meu andar como este soneto
pouco se me dá se é de pé quebrado
a linha reta transformei em arco
não quero regras nem branco no preto
sou absoluto não troco de lado
e sigo só por conta do meu barco
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Júlio Saraiva
São Paulo, Brasil
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quarta-feira, 15 de agosto de 2012
TOADA MEIO ENJOADA
deste pão preto não quero
desta água podre não bebo
deste fruto já não mordo
qualquer um eu não recebo
este incenso não me agrada
este mel me dá azia
quero um copo de veneno
e distância da poesia
não me falem mais em flores
dane-se toda a quimera
caso o telefone toque
não estou pra primavera
_________________
Júlio Saraiva,
São Paulo, Brasil
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desta água podre não bebo
deste fruto já não mordo
qualquer um eu não recebo
este incenso não me agrada
este mel me dá azia
quero um copo de veneno
e distância da poesia
não me falem mais em flores
dane-se toda a quimera
caso o telefone toque
não estou pra primavera
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Júlio Saraiva,
São Paulo, Brasil
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terça-feira, 14 de agosto de 2012
POEMA PINTADO A DESENCANTO
tenho asas mas não sei mais como se voa
agora também pouco me importa saber
tomei pavor de altura
e penso que os pássaros existem apenas
na minha imaginação doente
tive um sorriso mas não me perguntem como
um dia eu o perdi na infância
vasculhei tudo o que pude
enfrentei ventos desafiei tempestades
sonhei sonhos que não devia na esperança
de encontrar meu sorriso
não o encontrei e com raiva prometi
nunca mais procurá-lo
tive o hábito de colecionar milagres
mas numa noite de desespero rompi com os
santos todos
deus com ódio de mim colocou-me
no banco dos réus antes do juízo final
se fui condenado ou não
até hoje ninguém me falou
mas acho que devo ter sido
porque vai dia vem dia descubro
que ainda continuo vivo
perdido no cu desta vida
13-08-12
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Júlio Saraiva,
São Paulo, Brasil
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agora também pouco me importa saber
tomei pavor de altura
e penso que os pássaros existem apenas
na minha imaginação doente
tive um sorriso mas não me perguntem como
um dia eu o perdi na infância
vasculhei tudo o que pude
enfrentei ventos desafiei tempestades
sonhei sonhos que não devia na esperança
de encontrar meu sorriso
não o encontrei e com raiva prometi
nunca mais procurá-lo
tive o hábito de colecionar milagres
mas numa noite de desespero rompi com os
santos todos
deus com ódio de mim colocou-me
no banco dos réus antes do juízo final
se fui condenado ou não
até hoje ninguém me falou
mas acho que devo ter sido
porque vai dia vem dia descubro
que ainda continuo vivo
perdido no cu desta vida
13-08-12
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Júlio Saraiva,
São Paulo, Brasil
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