uma nuvem virou panamá
na cabeça do ocaso
os cães vinham de longe
atraídos pelo cheiro doce
das pedras no cio
o arcoíris soprava
aos ouvidos das águas
frases arrancadas do Livro de Jó
tu colhias a rosa-dos-ventos
com mãos de saudade
depois em passos de minério
retornavas ao princípio das coisas
- Todas as coisas
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Júlio Saraiva,
São Paulo, Brasil
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quinta-feira, 28 de junho de 2012
quarta-feira, 27 de junho de 2012
4 POEMAS LITÚRGICOS
Para João Tomaz Parreira
INTRÓITO
As palavras vibram.
O Sol enche o Céu de exclamações.
Nós, náufragos desde a Criação,
Esperamos pela barca
Que nos levará de volta ao Caos.
KYRIE, ELÉISON
Sem terra
Sem trigo
Sem pão.
OFERTÓRIO
Dedos compridos, mãos engelhadas.
Sobre manchas de vinho, migalhas de pão.
Um pássaro canta sem se fazer notar.
Corpo nu deitado na relva.
- Momento lindo!
COMUNHÃO
O pão ázimo
dos aflitos
amarga
em minha boca.
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Júlio Saraiva
São Paulo, Brasil
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S
sexta-feira, 22 de junho de 2012
QUIXOTESCO
sou pixote a bater-me com
moinhos de tempestade
falo só pela cidade
como se estar calado
fosse um divino dom
guardo no bolso do colete
alguma lembrança quase boa
do tempo em que eu cria nas coisas
mais o retrato de um santo
e também um estilete
que de tanto ser passado
jaz agora enferrujado
eu brincava de erguer castelos
mas os castelos ruíram todos
e o rosto que eu tinha
sumiu no meio dos destroços
tolice procurá-lo agora
debaixo de tantos ossos
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Júlio Saraiva,
São Paulo, Brasil
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moinhos de tempestade
falo só pela cidade
como se estar calado
fosse um divino dom
guardo no bolso do colete
alguma lembrança quase boa
do tempo em que eu cria nas coisas
mais o retrato de um santo
e também um estilete
que de tanto ser passado
jaz agora enferrujado
eu brincava de erguer castelos
mas os castelos ruíram todos
e o rosto que eu tinha
sumiu no meio dos destroços
tolice procurá-lo agora
debaixo de tantos ossos
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Júlio Saraiva,
São Paulo, Brasil
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segunda-feira, 4 de junho de 2012
CIRANDA
ainda ontem me vi perdido na praça
a olhar as crianças os cães as pombas
os elefantes e os meus dias antigos
ainda ontem me vi perdido na praça
desesperado a me procurar
a me procurar a me procurar
entre as crianças os cães as pombas
os elefantes e os meus dias antigos
ainda ontem me vi perdido na praça
mas consegui achar o meu rosto
no rosto de uma mulher que gesticulava
falava sozinha e não parava de cuspir
depois encontrei os meus passos
nos passos lentos de um homem
que também caminhava na praça
de cabeça baixa como se estivesse a procurar
um documento um pente uma moeda
uma ponta de cigarro uma lua
um retrato de maria antonieta
um bilhete de loteria
uma página arrancada de um livro de flaubert
a haste de um girassol
ou qualquer outra coisa entre as coisas
perdidas na praça
qualquer outra coisa qualquer
que para as crianças os cães as pombas os elefantes
não tem a menor importância
os meus dias antigos
04-06-12
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Júlio Saraiva,
São Paulo, Brasil
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a olhar as crianças os cães as pombas
os elefantes e os meus dias antigos
ainda ontem me vi perdido na praça
desesperado a me procurar
a me procurar a me procurar
entre as crianças os cães as pombas
os elefantes e os meus dias antigos
ainda ontem me vi perdido na praça
mas consegui achar o meu rosto
no rosto de uma mulher que gesticulava
falava sozinha e não parava de cuspir
depois encontrei os meus passos
nos passos lentos de um homem
que também caminhava na praça
de cabeça baixa como se estivesse a procurar
um documento um pente uma moeda
uma ponta de cigarro uma lua
um retrato de maria antonieta
um bilhete de loteria
uma página arrancada de um livro de flaubert
a haste de um girassol
ou qualquer outra coisa entre as coisas
perdidas na praça
qualquer outra coisa qualquer
que para as crianças os cães as pombas os elefantes
não tem a menor importância
os meus dias antigos
04-06-12
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Júlio Saraiva,
São Paulo, Brasil
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