“O universal é o local sem paredes.” (Miguel Torga) "Escrever é um ato de liberdade." (Antônio Callado) "Embora nem todo filho da puta seja censor,todo censor é filho da puta." (Julio Saraiva)

sexta-feira, 23 de março de 2012

FLAGRANTE ASSOBIO

no coração da faca
a lâmina brilha
mas não há qualquer
vestígio de sangue

impiedosa porém a noite
de punhos cerrados
agride o homem que passa
com passos perdidos

o homem cambaleia
e cai no colo da calçada

mesmo vazia a rua
sente pena do homem
e com um longo assobio
chama a morte
para lhe prestar socorro


23-03-12
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Júlio Saraiva,
São Paulo, Brasil
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quinta-feira, 22 de março de 2012

POEMA DE UMA TARDE

não sabes com que elegância o tempo me observa
despreza a minha loucura numa casa de chá
entre biscoitos finos e delicadas porcelanas
dessas que a gente toca com todo cuidado
como quem afaga o rosto rosado de uma criança

posso acrescentar a voz de piaf ao poema
e uma chuva fina caindo lá fora
(piaf não - maysa)
uma mulher de vestido preto me acena
sorri e depois desaparece na fumaça do meu cigarro

não tenho pressa não preciso ter pressa
o próximo voo demora algumas horas ainda
não sabes com que elegância o tempo me mastiga


22-03-12

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Júlio Saraiva,
São Paulo, Brasil
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quarta-feira, 21 de março de 2012

DUAS NATUREZAS VIVAS COM SILÊNCIO

1

sobre a escrivaninha
preso
à moldura prateada
o retrato de meu pai
lê e relê
os versos que faltam
para terminar
o poema

emputecido
o silêncio peida

2

sobre a cama desarrumada
a manhã ruminava a preguiça dos meus olhos
no tapete
- como que esquecido -
havia um gato da cor da tua ausência

o silêncio celebrava uma missa cantada

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Júlio Saraiva,
São Paulo, Brasil
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