“O universal é o local sem paredes.” (Miguel Torga) "Escrever é um ato de liberdade." (Antônio Callado) "Embora nem todo filho da puta seja censor,todo censor é filho da puta." (Julio Saraiva)

quarta-feira, 31 de março de 2010

UM CERTO JÚLIO SARAIVA OU NARCISO SEM ESPELHO

pretérito imperfeito
futuro sem presente
pronome bem pessoal
sujeito sempre ausente

advérbio sem modos
ou verbo de ligação
sem ave sem maria
sem amém na oração

de fala coloquial
particípio passado
a limpo - imperativo
bem pra lá de abusado

concreto ou abstrato?
moço de fino trato

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Júlio Saraiva,
São Paulo, Brasil
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terça-feira, 30 de março de 2010

Silêncio...

Sinto saudades do seu silêncio...
Os olhares entrecortados pelas angústias e os desejos calados. 
E no afã das carícias de amor,
Quero e espero apenas ouvi-lo!

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Diana Balis,
Rio de Janeiro, Brasil
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SEM MAIS HOJE

tenho o sol dividido ao meio
e me bateu um calor danado nas entranhas
mas hoje baby sinto muito
hoje não dá
tô fechada pra balanço geral
e com a cabeça menstruada
não faz birra que eu odeio
tô mais pra gardel que pra cartola
quero La Cumparsita e não O Sol Nascerá
aos quinze anos desisti do balé
nasci pra botar fogo e não pra ana botafogo
depois sou flamengo
e aquela coisinha de ficar nas pontas dos pés
me deixava putamente agoniada
"Se alguém quer matar-me de amor
Que me mate no Estácio"
se você insitir chamo a ambulância
faço escândalo
ponho a vizinhança em pé-de-guerra
quando sair por favor tranque tudo direitinho
coloque a chave debaixo da porta
talvez mais tarde eu vá ao jardim botânico
conversar com as palmeiras imperiais
veja se eu não esqueci o gás ligado
dê um beijo na sua mãe
deus te proteja

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Annabárbara,
Rio de Janeiro, Brasil
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domingo, 28 de março de 2010

PEDRAS SOLTAS

Descalço
Caminho sobre as pedras
Da calçada
Que apesar
De aguçadas  não me ferem,
Porque olho mais além
Por cima das estrelas.

Magoam-me, sim, as palavras
Que auguram
Cenários de amargura.

Piso as pedras do caminho,
Como flores
Que desabrocham
E perfumam minha dor.

Porque o meu olhar está distante.

Acaricio a berma das estradas
Que me afastam do choro
Dos que sofrem
Pelas pedras que a vida
Lhes atira
Sem dó nem piedade.

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Aníbal José de Matos,
Figueira da Foz, Portugal
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sábado, 27 de março de 2010

A ÚLTIMA LAMENTAÇÃO

"Lembra-te de minha miséria e de minha angústia:
absinto e veneno!
Eu me lembro, sempre me lembro,
transido dentro de mim."

Lamentações de Jeremias, 3ª  Lamentação - 19,20

ALEF

depois da chuva
veio outra chuva
e mais outra chuva
e nada restou da colheita

BET

talvez seja eu aquele homem
sufocado
perdido no meio dos escombros
talvez seja eu
aquele homem
no meio dos escombros

GUIMEL

não sei ao certo se  foi salvação
ou castigo
agora é tarde para saber
sei apenas que os dias se tornaram longos
e o pesadelo é fato

DALET

não consigo mais enxergar estrelas
tudo é treva
só tenho viva a lembrança dos meus mortos
os vivos acho que nunca existiram
todas as pessoas que comigo conviveram
eram frutos da minha imaginação doente

HE

de mim guardo poucas lembranças
a mais importante vem do tempo
em que eu transformava licores em fel
bebia o fel com gosto
e depois punha-me a esperar a morte

VAU

passava parte dos meus dias trancado
na sala repleta de livros
aprendendo a arte de adivinhar o futuro
e os meus laços com a morte
ficavam cada vez mais estreitos

ZAIN

raras foram as noites em que a morte
não me vinha visitar
chegava pudica
sua fisionomia era limpa
sem nenhum sinal de horror no rosto
a morte me beijava a boca
acariciava os meus cabelos
sussurrava em meus ouvidos
e me deixava adormecer no seu colo
quando amanhecia
a música suave
como a respiração de uma criança
me trazia de volta à vida

HET

também não posso esquecer
da ternura que os cães
principalmente os enxotados e doentes
me ofereciam
quando o ar era escasso
e o desespero incontrolável
os cães se aproximavam de mim
lambiam as minhas feridas
e nada pediam em troca
senão um afago

TET

muitas vezes experimentei a sensação
de um pássaro
encolhido nas penas
sem o menor desejo de voar
pássaro covarde
que renunciou à liberdade das alturas
pelo limitado espaço da gaiola
em troca da ração diária de alpiste

IOD

agora nem céu nem gaiola
nem alpiste
meus cães estão mortos
e a morte porque não transformo mais licores em fel
me despreza

CAF

sinto o fio da navalha no pescoço
a baba grossa a me cair
pelos cantos da boca
minha arma é o grito
mas as pedras não o escutam
e os insetos me ignoram

LAMED

ó deus dai-me um pouco de temor
para que eu vos possa temer
arrancai-me do peito a descrença
apontai-me os abismos mais profundos
dai-me a fúria dos desesperados
a indiferença dos loucos
e o riso débil dos felizes
para que eu torne a acreditar


MEM

faltam-me as lágrimas
gostaria de poder chorar como as mães
que perderam seus filhos nas guerras

NUN

queria muito ser como os rios
que desde a nascente sabem o caminho do mar
queria ser como os ventos
que desconhecem o cansaço

SAMEC

ó minha cidade
desejei tanto vos declarar o amor
que nunca senti
prostitutazinha de concreto
perdoai-me
nunca serei o vosso poeta
nunca emprestarei os meus versos
para escrever a vossa história

PE

tive as malas prontas
mas as partidas ficavam para o dia seguinte
quando tudo parecia consumado
uma mulher surgia à minha frente
caía de joelhos aos meus pés
a implorar para que eu não fosse

AIN

sempre fiquei não querendo
perdi a conta de quantas três mil vezes
neguei a mim mesmo
escondido atrás do muro da minha vergonha

SADE

quando me negaram  pão roí as unhas
quando me negaram água bebi restos
de tempestades antigas acumuladas na memória
dos meus piores dias
deram-me por morto em combates
que nunca estive
e gravaram o meu epitáfio
nos banheiros imundos
dos antros mais ordinários

COF

hoje sei que só as putas
me amaram de verdade
por alguns dinheiros
elas desnudavam seus ombros
cheios de cicatrizes
para que eu depositasse minhas lágrimas
sobre eles

RES

uma sensação de alívio porém me envolve
nesta hora em que o final se aproxima
vou levar na mochila aquelas poucas frases
que não consegui dizer
nas ocasiões de festas ou funerais
vou levá-las comigo
e depois trancá-las a sete chaves
no cofre de pedra do meu silêncio

SIN

ainda não decidi mas devo levar também
uma camisa florida
adquirida num bazar de caridade
nunca a usei
mas a estampa servirá de recordação
da primavera que esperei em vão
não posso esquecer
das minhas surradas sandálias
de couro cru
caso amanhã eu mude de ideia
elas me farão lembrar
o caminho de volta

TAU

toda despedida é inútil
amanhã num porta-retrato
meu rosto estará mais velho
e minha barba mais branca
mas se nada disso
por acaso acontecer
meus amigos eu suplico
matem-me para sempre

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Júlio Saraiva,
São Paulo, Brasil
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CASO VOCÊ MORRA, UM AVISO

se amanhã por (des) ventura você morrer
não espere de mim lágrimas
não espere de mim tristeza
não espere que eu saia feito louco
pichando os muros da cidade
não espere nada de mim
se alguém vier me consolar
com o olhar enlutado
tenho na ponta da língua
o velho jargão: "A vida continua..."
eu continuo na vida
e este continuar-na-vida é o quanto me basta
talvez eu vá à última sessão de cinema
e acabe dormindo na poltrona como sempre
não vou mudar os meus hábitos
nenhuma morte até agora mudou os meus hábitos
com a sua não vai ser diferente
prometo não parar de fumar
prometo não parar de beber
prometo continuar a mentir
caso eu tenha algum dinheiro
faço uma viagem - vou ver o mar
que há tanto tempo não vejo
e embarco a sua lembrança
num qualquer navio de bandeira estrangeira
quando eu regressar à casa
aí sim penso o que vou fazer de mim
mas não fique na esperança
que eu venha a fazer grande coisa
não tenho mais tempo pra grandes coisas
pode ser que eu apague você da memória
mas não descarto a hipótese de adoecer
talvez eu me dedique aos animais
talvez eu tome lições de piano
só pra aprender a tocar villa lobos
existe ainda a possiblidade remota
de eu me trancar num mosteiro
mas o mais provável mesmo
é que eu perca de vez o juízo
mude os móveis da sala
me apaixone pela vizinha que nunca teve ninguém
case com ela
e acabe com ela os meus dias
mais ou menos feliz para sempre

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Júlio Saraiva,
São Paulo, Brasil
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sexta-feira, 26 de março de 2010

SONETO DE PASSAGEM

Das águas corredias da memória
emergem os liames da incerteza:
retêm lendas, mitos e a história
das crenças, das ideias e a beleza

das artes, dos ofícios, da cultura
e de terras fecundas e até sáfaras
que foram ou serão a sepultura
de quem partiu do fio das diásporas.

É veloz o decurso desta vida:
um dia após outro e, de repente,
já fomos, e o que sobra é despedida
oxalá fosse pasto de semente:

de novo sentiríamos o sol,
quem sabe se flor, se rouxinol.

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Domingos da Mota,
Vila Nova de Gaia, Portugal
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quarta-feira, 24 de março de 2010

SACRAMENTO

atualizar os dias
sem temer a carne

recontar os ossos
dos que já se foram

espalhar as cinzas
pelos jardins das casas
que não existem mais

beber a água benta
das pias batismais

saciar toda a sede
das horas inquietas

ser sóbrio como o pássaro
que desistiu do voo

enfim dormir sereno
no colo de um navio
e não pensar na volta

comungar a morte
livre e sem remorso

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Júlio Saraiva,
São Paulo, Brasil
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segunda-feira, 22 de março de 2010

POEMA DO ALÉM

na rua maria paula
em frente à federação espírita do estado de são paulo
dois homens dividem restos de comida
& uma garrafa de pinga
comem enfiando as mãos na mesma vasilha
não falam
apenas comem com as mãos
restos de comida da mesma vasilha
entre goles de pinga
os restos de comida chegam ao fim
a garrafa de pinga já vai pela metade
a noite é quente
há prenúncio de chuva
os dois homens se levantam
& começam a catar pontas de cigarro no chão
cada ponta de cigarro é um troféu
aos dois junta-se um terceiro
que traz outra garrafa de pinga
mas não levou sorte: perdeu o jantar
a pinga esquenta por dentro & engana a fome
no prédio da federação espírita do estado de são paulo
os vivos conversam com os mortos
como se apesar vivos já fossem mortos antigos
e os mortos como se tivessem chegado a este mundo ontem
                                                                 [num voo fretado
puta intimidade
: encontro entre vivos & mortos dá samba
os três homens na calçada ignoram essas coisas do além
os três homens na calçada desprezam as coisas do além
faz tempo que os três homens  estão além
muito além do além
dona marta diz que é dívida
acerto de contas do que fizeram noutra encarnação
aceitaram voltar miseráveis assim para expiar
os indianos chamam isso de karma
as religiões encontram jeito pra tudo
ainda bem
karma é uma palavra bonita
bem trabalhada até cabe em poesia
eu não entendo muito de coisas do outro mundo
e nem deste
mas de certo modo
também vivo no além
também vivo  noutro mundo
não sei qual mas vivo ou acho que vivo
como os três homens que vi na rua maria paula
deve ser karma
- meu amor por você morro de  karma
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Júlio Saraiva,
São Paulo, Brasil
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domingo, 21 de março de 2010

POEMA LAXATIVO

o presidente da república caga para a poesia
- fazer o quê?!
isto não é novidade
o ministro da cultura caga para a poesia
- fazer o quê?!
isto não é novidade
o empresário caga para a poesia
- fazer o quê?!
isto não é novidade
o banqueiro caga para a poesia
- fazer o quê?!
isto não é novidade
o usurário caga para a poesia
- fazer o quê?!
isto não é novidade
o operário também caga para a poesia
- fazer o quê?!
isto não é novidade
: se os poderosos cagam
por que os miseráveis não podem
cagar também?
cagar é um direito de todos
cagar é um direito sagrado
a puta na hora do gozo
caga gemendo para a poesia
a adolescente virgem
enquanto se masturba
caga para a poesia
o padre no meio da missa
caga para a poesia
: a poesia não é o cordeiro de deus
que tira o pecado do mundo
o dono do bar é mais explícito
: além de cagar também quer
que a poesia se foda
o bêbado ri faz coro e também
caga e quer que a poesia se foda
todo mundo caga para a poesia
- fazer o quê?!
isto não é novidade
e se querem saber a verdade
até o poeta caga
- se não for o que mais caga -
para a poesia
porque a poesia tem efeito laxativo
então caguemos todos!
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Júlio Saraiva,
São Paulo, Brasil
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sexta-feira, 19 de março de 2010

LOUVOR E SIMPLIFICAÇÃO DE TORQUATO NETO

Anjo torto, não sou grande leitor de Rilke,
meu coração é canhoto,
altermodernista de setenta e oito
mas vou, como foste, bicho,
desafinando o coro dos contentes

Até ao fim do fim do mundo, dos últimos dias em
Paupéria ou Porca Miséria,
buscando incessantemente a beleza
das dissonâncias e assonâncias
compondo o desconcerto sinfônico de isto tudo

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Bruno Sousa Villar,
Portugal
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LET'S PLAY THAT

quando eu nasci
um anjo louco muito louco
veio ler a minha mão
não era um anjo barroco
era um anjo muito louco, torto
com asas de avião
eis que esse anjo me disse
apertando a minha mão
com um sorriso entre dentes
vai bicho desafinar
o coro dos contentes
let's play that!

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Torquato Neto,
Teresina, Piauí, 1944
Rio de Janeiro, 1972
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quarta-feira, 17 de março de 2010

CANTIGA DO MAL-AMADO

navio apitou na curva
deus vos salve bom capitão
tenho minha vista turva
pois fiquei cego de paixão
culpa de certa senhora
levou-me a vista à penhora
e por ela virei ladrão
a poesia foi embora
sobraram só rimas em ão

fez-me a dona erguer altares
e dei-lhe o ouro que eu tinha
enfrentei os sete mares
para torná-la rainha
hoje me afogo nos bares
por culpa que não é minha

navio apitou na curva
deus vos salve bom capitão
tenho a vista muito turva
pois fiquei cego de paixão
por amor fiz-me são jorge
e fui lutar com o dragão
de meu restou este alforje
que é minha bagagem de mão
quero partir pra bem longe
levai-me meu bom capitão
faço trabalho dobrado
dormir pode ser no porão
de noite fico calado
e nunca mais rimo em ão

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Júlio Saraiva,
São Paulo, Brasil
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segunda-feira, 15 de março de 2010

UMA PEQUENA DECLARAÇÃO DE AMOR E ÓDIO

"meu homem não vale nada, eu sei
mas foi tudo o que encontrei..."

Da Canção "Meu Homem"
letra de Ruy Guerra,
com música de Francis Hime.


tem o nome da mãe tatuado no peito
tem um sorriso estúpido
bebe demais e mente
às vezes até me bate
tem puta na rua
eu sei
vez em quando me manda flores
e diz que me ama
chora como criança
sente paixão e remorso
lambe minha carne
e também me lambe no meio
das coxas
rói os meus ossos
exausto depois
lambuzado do que fizemos
quando olho nos olhos dele
 vejo o moço o bonito
que o tempo fez corroer
finjo então que acredito
ai meu moço bonito
ai meu homem canalha
me fode de vez
me escangalha
faz o que bem quiseres comigo
por ti quero me morrer

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Annabárbara,
Rio de Janeiro, Brasil
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domingo, 14 de março de 2010

ESSA TAL DE POESIA

http://www.youtube.com/watch?v=YbGt_x0cXgU

Eram os bardos nas cortes,
palhaços aos risos reais.
Mas os talentos que eles tinham,
eram de respaldos culturais.

Faziam de histórias; cantigas,
para alegrar os comensais.
E cantavam pelas vielas,
dos centros medievais.

Das histórias declamadas,
que bem agradavam aos reis,
do povo, não menos prestigiada.
Eis surgindo a poesia, esboçada.

Deles, dos escribas da corte,
aos que detinham o saber.
Os músicos, e os doutores.
Desencantaram assim os cantores.

Compunham, tocavam, cantavam,
só alegria, nas bocas dos menestréis.
Fim das diversões em pantomimas.
Ecoou a voz do poema,
nos adros, nos castelos e bordéis.

Contemporaneamente ao poema,
não há muitas transformações.
Compomos, cantamos e declamamos,
com a mesma paixão, e alegria.

Tão vital é ao mortal poeta;
como o sangue, a alma,
ou sua amante;
‘Essa tal de poesia’

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José Silveira,
Rio de Janeiro, Brasil
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Amei

Amei e gozei muito
E ávida assim, distraí quem passava.
Nunca quem vê, sabe o que sinto
Mas ontem, eu gozei depravada e foi tão bom!
Nunca senti a vida tão livre de mim
Fui aonde escolhi e domei
O homem, nem me quis
Mas eu gozei feito mel
Parasitei as paredes desconfiadas na casa do amor.
E após o feito ouvi,
Sai mais uma pizza de rúculas com tomates para a carioca na paulista...
Balis para JS

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Diana Balis,
Rio de Janeiro, Brasil
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sexta-feira, 12 de março de 2010

SONETO INSENSATO

por seres assim tão pura e fêmea
foi que te consegui amar tanto
minh'alma louca e também gêmea
que só no olhar me colocou quebranto

pois bem eu que já  fui um moço puro
acabei enfim todo enfeitiçado
jurava por deus e hoje não juro
e de vez acabei teu namorado

e se te amo tanto é o meu castigo
que até deus do céu fez meu inimigo
não teve compaixão  nem qualquer perdão

foda-se pra sempre esta minha vida
se ora vivo num beco sem saída
sou a propria luz da minha escuridão

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Júlio Saraiva,

São Paulo, Brasil
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terça-feira, 9 de março de 2010

Alma Safada...

Levaste-me a passear na madrugada?
Acordei nua passagem
E do lado direito do riacho.

http://www.youtube.com/watch?v=vghBgUger08

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Diana Balis,
Rio de Janeiro, Brasil
as melodias, sobre poemas de Diana, são de Rui de Carvalho,
Rio de Janeiro, Brasil
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domingo, 7 de março de 2010

TOMBO

para Gisele ou Diana Balis, se ela assim preferir,
com seu sotaque carioca pesado, carregado nos esses e erres,
que me fazem bem aos ouvidos. ternura, consagro.


"Boa noite a todos
à minha chegada
sou mestra Diana
sou quem dou entrada
e a contramestra
madeira ela é
e o resto do bando
venha quem quiser."

Do poema Diana Pastora,
de Fernando Lobo,
com música de Mariozinho Rocha


tua alma safada colocou
o pé na minha frente
foi só por isso que caí
confesso que não sei dançar
a não ser na corda bamba
detesto polca prefiro samba
sofro de saudade de navios partindo
por isto estou sempre indo embora
tenho estas pilhas de livros
e o olhar impiedoso dos santos
a nos condenar ao fogo eterno
debaixo do cobertor azul
tuas pernas entre as minhas
mas nossas pernas não pensam
um gemido vale mais que mil poemas
depois corpos nus
dividem o cansaço do gozo
chuva suave só faz barulho lá fora
é por isso que sempre prefiro temporal
que caia de uma vez então

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Júlio Saraiva,
São Paulo, Brasil
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Chuva suave de pétalas de rosas

Chuva suave de pétalas de rosas


Cai a chuva suave
São pétalas de rosas
O amor é rubro
As faces esgotadas
O sexo é animal
Entre as cobertas azuis
Divulgadores do frio
Aquecidos corpos nus
Duas pernas serão sorrisos
A ternura vale mais
Que a bosta de uma vaca?
Mas a vida é preenchida
Com as lembranças tortas.
O pote já cheio dos cigarros
A moça reconhecia o lugar...
Bebe a revelia, como revolta?
E agora? É agarrar ou largar?
Domar, polir, tremer...
E dançar a polca?
E o medo dos 57 andares.
Olha para cima e respira.
É pura a poluição de sentidos.
Na vertigem das árvores
De lindos cabelos compridos,
Os colos serão ninhos e desabrigos.
O sono nem vem, nem passa.
A saudade é mata do perigo.
Adentrada sentença do nada
Ganha a vida um novo sentido.

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Diana Balis (*),
Rio de Janeiro, Brasil
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Diana Balis, desaba. Rio de Janeiro, 24 de fevereiro de 2010.
(*)Diana Balis é pseudônimo literário
da poeta, atriz, psicóloga e educadora
Gisele Sant'Ana Lemos
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sexta-feira, 5 de março de 2010

SONETO DE RUA

"Ai a vida!
Quanto mais me magoa, mais a canto."

- Miguel Torga -


... no entanto amor entro no bar e bebo
e bebo só mas bebo tanto e tanto
duas pra mim e dou mais três pro santo
que saio torto e nem sequer percebo

até que um dia fui um bom mancebo
talvez alguém me colocou quebranto
fui alma pura pus divino manto
hoje só pago mas nunca recebo

amar meu bem não passa só de vício
morrer morri foram tantas as vezes
que não me assusta qualquer precipício

cruel me foram dias anos meses
poesia foi só dever de ofício
quatro em ponto tomo o chá dos ingleses

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Júlio Saraiva,
São Paulo, Brasil
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quinta-feira, 4 de março de 2010

ENTRE PAREDES

noite em branco
2 maços de cigarro
1/2 litro de conhaque

nenhum poema
nenhuma mulher

amanhã & depois
tudo na mesma

feliz é o cão
feliz é o gato
feliz é o rato

feliz é a lesma

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Júlio Saraiva,
São Paulo, Brasil
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