“O universal é o local sem paredes.” (Miguel Torga) "Escrever é um ato de liberdade." (Antônio Callado) "Embora nem todo filho da puta seja censor,todo censor é filho da puta." (Julio Saraiva)

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

POEMA SECO PARA O DIA DE NATAL

ao camarada marighella, em  memória, e também ao frei betto


no dia 4 de novembro de 1969
em são paulo
na alameda casa branca
o poeta
político e guerrilheiro
carlos marighella foi assassinado
numa tocaia armada
pelo delegado sérgio paranhos fleury e seus comparsas
entre outros vícios
inclusive o da cocaína
fleury tinha fascínio em assassinar pessoas
no dia 4 de novembro de 1969
- dia consagrado a são carlos borromeu -
assassinaram carlos marighella
encheram marighella de tiros
antes torturaram dois frades dominicanos
com quem marighella mantinha contato
eu tinha só treze anos mas sabia quem era carlos marighella
pela boca do meu pai
o delegado fleury frequentava a igreja do sagrado coração
no bairro do bom retiro
onde minha avó me levava
o delegado fleury comungava todos os domingos ao lado da mulher
a amante ficava pra mais tarde
não sei por que estou escrevendo isto hoje
é natal
acho que eu devia escrever coisas mais bonitas
mas devo ter bebido demais
no dia 4 de novembro de 1969
a polícia política brasileira
assassinou carlos marighella
que só queria um brasil melhor
no dia 4 de novembro de 1969
o corínthians de rivelino
jogava no pacaembu
contra o santos de pelé
o serviço de alto-falantes do estádio
anunciou a morte de marighella
como se isto fosse uma glória

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júlio saraiva,
são paulo, brasil, madrugada
de 25-12-09,
lendo o livro Batismo de Sangue,
do frade dominicano e escritor
Frei Betto, onde o episódio
é narrado
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