“O universal é o local sem paredes.” (Miguel Torga) "Escrever é um ato de liberdade." (Antônio Callado) "Embora nem todo filho da puta seja censor,todo censor é filho da puta." (Julio Saraiva)

sábado, 20 de agosto de 2011

SONETO DE CRISTIANE

teus olhos me falam todas as luzes
e teus passos guiam os meus caminhos
afastas o peso das minhas cruzes
com o leve roçar dos teus carinhos

e assim se eu me perco tu me conduzes
não vou no rastro dos que vão sozinhos
enfrento as balas de mil arcabuzes
se tenho teu beijo esqueço dos vinhos

se nos meus olhos havia neblina
vai-se num átimo toda cegueira
o velho que sou curva-se à menina

o mundo meu bem de vez que se dane
que sejas minha pela vida inteira
o resto se ajeita cris  -  cristiane

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Júlio Saraiva,
São Paulo, Brasil
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quinta-feira, 18 de agosto de 2011

CARTA, QUASE POEMA PARA ANTÓNIA RUIVO, MINHA AMIGA

hoje
e bem hoje amiga
eu não devia escrever nada
mas falta-me o sono
palavra que tenho não vale o poema
e a voz se me vem
sai engasgada
porém acho guardados nas prateleiras
os poetas que mais gosto
passam por mim drummond e bandeira
passa a sophia
com aqueles olhos tão lindos
que por si só já eram poesia
passa a alegria
passa o vinícius
passa o o'neill
ambos imersos em bebedeiras
e passa o torga
e o quintana vem
passa a cecília
passa o gullar
tu passas e a madrugada já vem
só eu nesta vida
é que não passo meu bem

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Júlio Saraiva,
São Paulo, Brasil
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A MORTE POR ATAQUE DE DESUSO

trago no bolso de uma calça velha
num guardanapo de papel anotações
para um poema só com palavras mortas
vítimas de ataque de desuso

não sei quando e nem se vou terminar o poema
no entanto todas as madrugadas
levanto-me e vou ao cemitério dos alfarrábios
chorar lágrimas de letras por essas palavras mortas
vítimas de ataque de desuso

toda vez que choro essas palavras mortas
sinto que elas me acenam com mãos de condolências
e eu digo que sinto muito mas deixo como garantia
minha palavra  -  o poema qualquer dia sai

trago no bolso de trás de uma calça velha
num guardanapo de papel anotações
com palavras antigas que amanhã ou depois
me vão matar também e eu não vou poder fazer nada
a não ser morrer calado por ataque de desuso

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Júlio Saraiva,
São Paulo, Brasil
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