Estou farto da poesia
cheia de renda de bilros
tricotada bonitinha
a alancear a vidinha
com porosos atavios
ou cedilhas timoratas
amarrotadas sem viço
cabisbaixa de alpargatas
e de olhos sempre de gatas
entre a dor e o derriço.
Ai do lirismo que arrima
e nem é carne nem peixe
pois um poema sem espinha(s)
virgulado picuinhas
é bem melhor que se deixe
de navegar no mar alto
no abismo dos sentidos
de atravessar o asfalto
de voar de ir a salto
pra mundos desconhecidos.
O poema deve ser
"uma pedra no caminho"
com as sílabas a arder
língua de fogo a crescer
e a morder até ao imo.
Mas se a mão o largar
numa toada vazia
desenfreada frenética
há que suster a poética -
e soltar a poesia.
Poetas abaixo a rima
(se ela for a prisão
onde o poema definha).
Estou farto da poesia
"que não é libertação".
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Domingos da Mota
a partir da leitura de dois poemas, respectivamente de
Manuel Bandeira e de Carlos Drummond de Andrade
http://fogomaduro.blogspot.com/
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Julio, eu li um poema seu....AUTO RETRATO...E, ainda hoje, eu vou postar uns retratos que fiz...FOTOS....e seu poema como ilustracao.
ResponderExcluirCaso queira me contactar, escreva...gostaria de trocar idéias.
dias felizes, querido
graceolsson.com/blog