“O universal é o local sem paredes.” (Miguel Torga) "Escrever é um ato de liberdade." (Antônio Callado) "Embora nem todo filho da puta seja censor,todo censor é filho da puta." (Julio Saraiva)

terça-feira, 17 de novembro de 2009

PÓRTICO

Uma nuvem virou panamá
na cabeça do ocaso.

Um colibri fechou os olhos
da folha morta.

Os cães vinham de longe,
atraídos pelo cheiro doce
das pedras no cio.

O arco-íris soprava
aos ouvidos das águas
frases arrancadas do Livro de Jó.

Tu colhias a rosa-dos-ventos
com mãos de saudade.

Depois, em passos de minério,
retornavas ao princípio das coisas.

-Todas as coisas

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Júlio Saraiva,

São Paulo, Brasil

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3 comentários:

  1. Caro Júlio,
    Este seu poema evocou-me este outro, de Fiama Hasse de Pais Brandão, por causa do retorno "ao princípio das coisas", ou do "retorno aos elementos".
    Espero que não se importe que o deixe aqui.

    "Quando passa o tempo, as coisas
    retornam aos elementos. E as cria-
    turas. Para a transformação
    final. Mas nem o fim
    permanece. O cardume dos lagos
    que morre embranquecido
    por fim é de água. Os boquilobos
    multicolores na beira das áleas
    caem na terra e são terra."

    Fiama Hasse Pais Brandão, in Três Rostos - Ecos

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  2. Também a poesia de Maria Madrugada me recorda, por vezes, Fiama Hasse de Pais Brandão.

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  3. Laura,

    Fiame Hasse Pais Brandão é dos meus autores favoritos. Leio o seu generoso comentário com a Obra Breve, não tão breve, dela em minhas mãos. Tenho muita estima e admiração também pela Anita, a Maria Madrugada, que me honrará muito se escrever aqui também. Desculpe ter demorado a responder-lhe. Andei ausente, por conta de uma fratura no pé, que me vem incomodando. Pórtico, na verdade, foi tirado do meu livro Liturgia dos Náufragos e postado pela Adriane B. O bom gosto, na escolha, é todo dela. Mais uma vez, obrigado.

    afeto.

    j.

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