“O universal é o local sem paredes.” (Miguel Torga) "Escrever é um ato de liberdade." (Antônio Callado) "Embora nem todo filho da puta seja censor,todo censor é filho da puta." (Julio Saraiva)

sábado, 18 de dezembro de 2010

PEQUENA HISTÓRIA DE UM NATAL URBANO

na antevéspera do natal
durante uma batida da polícia
no centro velho de sampa
o menino jesus foi preso
fumando uma pedra de crack

- sabe com quem tá falando?!
vociferou o menino jesus
- sou o filho de deus
o policial se riu
e aplicou um tapa
no rosto encardido
do menino jesus
e mesmo ele sendo menino
meteu-lhe as algemas nos pulsos

- sou o filho de deus
repetiu o menino jesus
na delegacia

o delegado estava bêbado
e ficou furioso
e mesmo sendo um menino
o delegado mandou
que trancassem o menino jesus
numa cela comum
com presos adultos & perigosos

os presos adultos & perigosos
curraram o menino jesus
mesmo ele se dizendo filho de deus

na noite seguinte
para desespero de seus pais
maria & josé - ele carpinteiro desempregado
o menino jesus
não apareceu para a missa do galo
onde devia nascer de novo

o anjo não pode abrir a faixa
onde se lia
"Glória in excélsis Deo"
o menino jesus também
não compareceu à ceia
organizada pela comunidade da
favela heliópolis

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Júlio Saraiva,
São Paulo, Brasil
___________________

4 comentários:

  1. júlio,

    conseguiste mesmo abater com este/s meninos, que bem poderia ter sido tu ou eu.

    beijão amigo

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  2. e agora. como será o presépio do futuro?

    caro júlio.

    desejo-lhe um bom natal. se houver ainda...

    abraço

    ps - como em tempos prometi aqui fica a minha página:

    http://sampaiorego.blogspot.com/

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  3. duda,

    pior de tudo é que, ainda involuntariamente, nós ajudamos a matar um pouco este menino - esses meninos.

    um beijo.

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  4. caro sampaio,
    o presépio está o ano inteiro nas ruas das grandes cidade. aliás, os presépios. mas a verdade é que temos olhos omissos. passamos com tanta pressa que não os reparamos.
    a propósito, esta página aqui também está aberta para você.
    abraço,

    j.

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