“O universal é o local sem paredes.” (Miguel Torga) "Escrever é um ato de liberdade." (Antônio Callado) "Embora nem todo filho da puta seja censor,todo censor é filho da puta." (Julio Saraiva)

quarta-feira, 12 de maio de 2010

POEMA SOBRE UM POEMA DE ANNA AKHMÁTOVA (*)

Canção da Despedida

Não ri e não cantei:
fiquei o dia inteiro calada.
Mais do que tudo queria estar contigo
de novo desde o começo.
Irrefletida a primeira briga,
absoluto e claro delírio;
silenciosa, insensível e rápida,
nossa última refeição.

Anna Akhmátova,
tradução do russo por Lauro Machado Coelho


não há motivo pra chorar agora
: a última refeição ficou esquecida sobre a mesa
nossos silêncios reclamavam nossas ausências
no entanto estávamos lado a lado
levo minha roupa amassada na mochila
o mais difícil será esquecer a capacidade
que tínhamos de sorrir por qualquer bobagem
(de agora em diante prometo deixar de gostar de
berinjela ao forno só pra não sentir o sabor ruim
da tua saudade)

__________________
Júlio Saraiva,
São Paulo, Brasil
_________________

(*) Anna Akhmátova (1889-1966), pseudônimo literário de Anna Andrêivna Gorienko, foi da vozes mais significativas da poesia russa moderna. Mesmo contrária à revolução bolchevique, Anna sempre mereceu respeito e carinho de seus pares de ofício, simpatizantes ao novo regime. Perseguida, várias vezes, e tendo chance de fazê-lo, foi aconselhada a deixar o país. No entanto, ela jamais se afastou da Rússia, mesmo tendo marido e filho presos e desaparecidos na Sibéria.

2 comentários:

  1. pois é Júlio há momentos que lamento ter ido pouco ao colégio para poder expressar o que sinto ao ler teus dizeres ... então só me resta dizer que amei :)

    PS: ao som de Nana huuuuuummm

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  2. desconhecia a autora e fiquei muda. do teu sempre aquele menino que se atravessa numa qualquer diagonal para nos dar tudo o que tem...as palavras.

    bj
    Duda

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