“O universal é o local sem paredes.” (Miguel Torga) "Escrever é um ato de liberdade." (Antônio Callado) "Embora nem todo filho da puta seja censor,todo censor é filho da puta." (Julio Saraiva)

sexta-feira, 14 de maio de 2010

MEMORIAL

"Sei de passado e de porvir, quanto um homem pode saber.
Conheço enfim o meu destino e a minha origem.
Nada me sobra para profanar, nada para sonhar."

- Giuseppe Ungaretti -


nada mais espero de mim
nada mais espero de ti
a manhã que acontece lá fora
é igual a todas as outras que vivi

um poeta não se constrói apenas
com boas intenções
também o amor não vive
só de boas intenções

perdão: não me interessa mais
saber que dia é hoje
da janela vejo com tristeza
as crianças que brincam na praça

hoje entendo que a minha poesia
foi um exercício de inutilidade plena
vivi meio século dividido
entre o ócio e o desespero
desci ao inferno várias vezes
fui o morto esquecido que ninguém reclamou

abusei de mim quando não devia
demorei a descobrir que em todos os carnavais que inventei
fui eu apenas eu o grande folião
o destaque maior  dançando comigo mesmo
nos bailes de mascarados

_____________________
Júlio Saraiva,
São Paulo, Brasil
_____________________

2 comentários:

  1. forte extravasar de lembranças...

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  2. quando a gente dobra a curva dos cinquenta anos, começa a escrever memórias. começa a viver, aos poucos, das lembranças do que fomos e do que deixamos de ser.

    carinho,

    j.

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