“O universal é o local sem paredes.” (Miguel Torga) "Escrever é um ato de liberdade." (Antônio Callado) "Embora nem todo filho da puta seja censor,todo censor é filho da puta." (Julio Saraiva)

terça-feira, 27 de abril de 2010

LERO-LERO

Sou brasileiro
de estatura mediana
gosto muito de fulana
mas sicrana é quem me quer
porque no amor
quem perde sempre quase ganha
veja só que coisa estranha
saia dessa se puder

Eu sou poeta
e não nego a minha raça
faço verso por pirraça
e também por precisão
de pé quebrado
verso branco rima rica
negaceio dou a dica
tenho a minha solução

Não guardo mágoa
não blasfemo não pondero
não tolero lero-lero
devo nada pra ninguém
sou esforçado
minha vida levo a muque
do batente pro batuque
faço como me convém

Sou brasileiro
tatu-peba taturana
bom de bola ruim de grana
tabuada sei de cor
4x7
28 noves fora
ou a onça me devora
ou no fim vou rir melhor

Não entro em rifa
não adoço não tempero
não remarco o marco zero
se falei não volto atrás
por onde passo
deixo rastro deito fama
desarrumo toda trama
desacato satanás

Diz um ditado
natural da minha terra
bom cabrito é o que mais berra
onde canta o sabiá
desacredito
no azar da minha sina
tico-tico de rapina
ninguém leva o meu fubá

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Cacaso (Antônio
Carlos de Brito),
Uberaba, Minas Gerais,
1944, Rio de Janeiro,
1987. Poeta, letrista
de música popular e pro-
fessor universitário. Cola-
borou em diversos jornais
da imprensa alternativa, contrário
ao regime militar instalado na época. Mor-
reu acometido de um enfarto
aos 43 anos.O poema Lero-Lero,
que dá título à sua coletânea
de poemas, foi musicado por
Edu Lobo
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2 comentários:

  1. mais um poeta que fiquei a conhecer pelo currupiao enciclopédico. o lero-lero é ritmicamente perfeito, as associações caem ímpares e a propósito. fiquei admirador. nasceu - fudeu.

    um abraço do

    mário

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  2. Essa música é linda e sinceramente mente diz que ela brilha para eu cantar...bjss

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