“O universal é o local sem paredes.” (Miguel Torga) "Escrever é um ato de liberdade." (Antônio Callado) "Embora nem todo filho da puta seja censor,todo censor é filho da puta." (Julio Saraiva)

quinta-feira, 16 de junho de 2011

PRIMEIRA CANÇÃO DE EXÍLIO

Para Estrela Leminski e Téo Ruiz

muito me choca essa coisa
de os poetas morrerem tão cedo
e não é de amor ou tuberculose
mas de overdose da puta desta vida
por isso não gosto dos poemas de amor
evito escreve-los até pra minha amada
quando dorme
por isso vivo quebrando meu pé
ora um ora outro
já não enxergo mais direito
ando na contramão do meu sonho
vou aos comícios de chinelos
fui parar na misericórdia duas vezes
porque não tinha dinheiro pra pagar lugar melhor
não ter dinheiro pra mim é estado de espírito
pra compensar a sopa aguada servida na misericórdia
havia os olhos azuis da enfermeira
que não quis fazer um filho comigo
e não foi falta de insistir
agora olho a rua onde moro
e sinto saudade de mim

:meu tempo é um retrato breve
pregado numa parede qualquer

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Júlio Saraiva,
São Paulo, Brasil
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