“O universal é o local sem paredes.” (Miguel Torga) "Escrever é um ato de liberdade." (Antônio Callado) "Embora nem todo filho da puta seja censor,todo censor é filho da puta." (Julio Saraiva)

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

QUADRAS ESCRITAS NO BAR NUM DIA DE CHUVA

cantiga do meu silêncio
fumaça do meu cigarro
augusto dos anjos disse
:beijo véspera do escarro

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ao concluir seu moisés
michelangelo gritou: -parla!
eu metendo as mãos pelos pés
em silêncio grito: - karla!

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meu bem a mal não me leve
meu bem não me leve a mal
que a vida é muito breve
só bebo depois do natal

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passo horas viajando
países num velho mapa
e assim amor vou levando
a minha vida no tapa

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upa upa upa upa
upa upa cavalinho
um fantasma na garupa
um defunto no caminho

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beijei a moça no muro
bem-te-vi cantou que me viu
ah bem-te-vi dedo-duro
vai pra pura que te pariu!

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de mim tenho muito orgulho
também faço muito gosto
diabo me chamo júlio
mas fui nascer em agosto

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beija-flor discutia
com um filhote de anu
ambos queriam saber
se borboleta tem cu

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era uma vez uma moça
que contrariou iemanjá
depois de cortar os cabelos
virou espuma do mar

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-meu reino por uma virgem!
ingênuo o reizinho bradou
perdeu o reino e a coroa
porque nenhuma encontrou

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pois assim foi que drummond
morreu como passarinho
mas eternizou a pedra
bem no meio do caminho

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estas quadras pobres quadras
umas até bem sem graça
todas elas foram feitas
sob efeito da cachaça

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Júlio Saraiva,
São Paulo,Brasil
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2 comentários:

  1. Júlio,

    não sei se é da cachaça...mas que são belas quanto o vinho ou drummond, não tenho qualquer dúvida.

    bj

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  2. O álcool quando moderado...aguça a inspiração...abre a alma ao mundo e atenua a ansiedade pontual.

    Prazer em conhecer o seu blogue, Júlio!

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