“O universal é o local sem paredes.” (Miguel Torga) "Escrever é um ato de liberdade." (Antônio Callado) "Embora nem todo filho da puta seja censor,todo censor é filho da puta." (Julio Saraiva)

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

ELEGIA SOBRE OS MEUS DIAS CONTADOS


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"De tão lúcido, sinto-me irreal."
  - Dante Milano -



meu barco navega sobre os meus dias contados
com a calma de quem perdeu o medo do mar
não careço bússola - deixo-me conduzir pelas estrelas
e rio por saber-me um homem do passado

como prenda levo a lembrança dos meus mortos
as muitas bocas que a timidez me impediu beijar
as lágrimas que guardei e esqueci de derramá-las
as inoportuníssimas gargalhadas de deboche
alguns pedidos de desculpa levo comigo também

minha insaciável vontade de beber deixo por aqui
quem se interessar por ela faça bom proveito
(pode ser útil nos momentos de vazio absoluto)
meu livro de sonhos e meu canivete suíço
meu relógio que parou num meio-dia qualquer
pensei em deixar mas por capricho mudei de ideia
pequenos caprichos valem mais que uma fortuna

meu barco navega sobre os meus dias contados
com a calma de quem perdeu o medo do mar



11-12-12

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Júlio Saraiva
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Um comentário:

  1. Júlio! Faz tempo que não o lia! Talvez já não se recorde de mim (José Correia, do luso?)

    Gostei bastante de o ter "encontrado" de novo, e de uma boa leitura, que teve o seu auge neste poema aqui, porque eu também acho que perdi o medo do mar.
    E os dias contados, isso é outra história.

    Um abraço!

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