“O universal é o local sem paredes.” (Miguel Torga) "Escrever é um ato de liberdade." (Antônio Callado) "Embora nem todo filho da puta seja censor,todo censor é filho da puta." (Julio Saraiva)

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

OS POEMAS DE AMOR MORRERAM...


os poemas de amor morreram
de falência múltipla das palavras
: flores & coroas
não devem ser enviadas

no princípio era a miopia
mas não ligaram importância
: bastava um par de óculos - não resolveu
depois veio a cegueira irreversível
provocada pelo diabetes
: excesso de açúcar nas palavras
volta não teve mais

os poemas de amor morreram
pelo bem da poesia & dos poetas que vão nascer
não foi falta de aviso
: rilke já havia alertado
dos perigos dos poemas de amor

os poemas de amor morreram
: lágrimas são inúteis
os poemas de amor morreram
na mais cruel indigência
nenhum poeta custeou o enterro
nenhum sino dobrou choroso
nenhuma mulher desesperada cortou os pulsos
com a lâmina de barbear do amante
que fugiu para moscou com a trapezista
de um circo-fantasma
nenhum infeliz se atirou da sacada do prédio
de uma repartição pública qualquer
nenhuma adolescente se entupiu de barbitúricos
com bebida ordinária

os poemas de amor morreram
: - In Paradísum dedúcant vos Angeli
Requiéscant in pace."

_________________
Júlio Saraiva
__________________

Um comentário:

  1. Olá Júlio,

    postei o seu poema e a tradução italiana aqui

    http://www.poesias.omelhordaweb.com.br/pagina_autor.php?cdPoesia=98030&cdEscritor=6281

    Boas Festas!
    Manuela

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