as manhãs estão morrendo a fome em porto príncipe
e o céu de porto príncipe não existe mais
enviar condolências não se faz necessário
os mortos não têm como recebê-las
e os que sobreviveram também estão mortos
porto príncipe está às escuras
como sempre esteve e viveu
como o haiti viveu sempre ignorado
miseravelmente ignorado
se é que viveu
não venham com orações agora
não tenham e nem sintam pena da mulher andrajosa
parada na esquina a chorar o filho morto
olhando o resto de casa que lhe sobrou
- se é que aquilo podia ser chamado casa
não se apiedem das crianças de lá
porque crianças nunca foram
tarde demais para chorar os cadáveres
espalhados pelas ruas
não sintam também pelos soldados brasileiros
que morreram por lá: eram soldados e para isto foram formados
o governo brasileiro fará a todos uma homenagem qualquer
e depois os atirará ao lixo do anonimato
(eram só soldados a patente nesta hora não importa
: a morte não respeita patentes e nem estrelas)
quanto a este poema
podem ler sim
e depois por favor joguem seus versos no lixo
os poemas também foram feitos para o lixo
em porto príncipe tudo agora é fantasma
e nem deus nem os anjos baixam por lá
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Júlio Saraiva,
São Paulo, Brasil
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No pais mais pobre da America, a mãe natureza realça na tragédia os infortunios de um povo sofrido de guerra e de descaso pelo abandono, que deixa em cada face, além da dor, a expressão de desalento, a expressão do nada da morte, causada pela falta de sentimentos, não só dos que se dizem governos, lideres, mas também pelo egoismo de nós enquanto sociedade, porque fingimos nada ver, até que nos aconteça o assombro praticado pela tragedia do descaso humano.Um poema de alerta poeta, "que se erga uma vontade global em cada lugar
ResponderExcluirum mar de gente ousada sem medos a exigir a solução" que se chama solidariedade!nesse momento que em porto principe já não há confiança na ESPERANÇA!
Lu