“O universal é o local sem paredes.” (Miguel Torga) "Escrever é um ato de liberdade." (Antônio Callado) "Embora nem todo filho da puta seja censor,todo censor é filho da puta." (Julio Saraiva)

domingo, 7 de fevereiro de 2010

baldeares

I

chove desde dezembro meu colo
empurra a mão com afazeres da água
anuncia que vai andar
quando as meninas arrancam as peles de entre dedos
mulheres secam a palha do bicho
meu colo parte
um bicho acocora, ele agoura janeiro

II

chove desde dezembro
meu colo sabe afazeres da água
ela transborda um jeito que tenho de fio
cabelos me cobrem a cara a luz
cai

III

meu colo se parte quando tua mão
mergulha na água transborda um
fio e o filho sofre
com o assobio da tua luz
querendo voltar abrir
a borda do nosso círculo
desde dezembro não volte

IV

posso morrer à pedra solar
na minha parte de gente posso
morder a pedra que dá na fome
tua mão travar as gengivas do filho que
arranca fio a fio cabelos meus
já não me cobre o gosto
mais não chove

V

seca a minha cabeça na palha
desejo água os pelos vêm
fecham a boca e rio
partir depende


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Adriane B.
São Paulo, Brasil
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2 comentários:

  1. estes fragmentos soltam-se como a chuva de dezembro cai (também aqui) & fio a fio.

    mário

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  2. tanta água também nos aproxima, é verdade. sabe, neste poema queria uma mulher como fosse ela Jó, do livro bíblico. e fio a fio, em cinco tentativas de um poema, vai se desfragmentando da condição de mulher para, no final, submeter-se. isso eu queria aqui mas bom mesmo seria estar entre um dos teus poetas (vermelhos de fato e direito- com olhos pra dentro). já disse Ferreira Gullar que nenhum poema é indispensável. confio nisso. de toda forma, meu amigo, tenho guardado comigo o teu poema a Mário Cesariny que me explica e conforma com quase tudo. obrigada pelo comentário. imenso abraço.

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