“O universal é o local sem paredes.” (Miguel Torga) "Escrever é um ato de liberdade." (Antônio Callado) "Embora nem todo filho da puta seja censor,todo censor é filho da puta." (Julio Saraiva)

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

ELEGIA CURTA

minha mãe morreu no dia 10 de janeiro de 2010
às 2 horas e 45 minutos
segundo o atestado de óbito a causa da morte foi
falência múltipla dos órgãos

minha mãe morreu no dia 10 de janeiro de 2010
minha mãe era bonita e foi atriz de cinema
do tempo da vera cruz - a hollywood brasileira
mas morreu aos 80 anos de falência múltipla dos órgãos
foi às 2 horas e 45 minutos

minha mãe não respirava mais
e também era não mais atriz do tempo da vera cruz
o rosto da minha mãe de cadáver era sério
como o rosto de todos os cadáveres

às 17 horas de ontem
minha mãe foi sepultada no cemitério do morumbi
em são paulo
e a vera cruz  - a hollywood brasileira - já não existia
há muito tempo

(minha mãe morreu aos 80 anos de falência múltipla dos
órgãos
quando a vera cruz não existia mais
e o sorriso de minha mãe fugiu do rosto
: no caixão minha mãe era um cadáver como qualquer
cadáver)

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Júlio Saraiva,
São Paulo, Brasil
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3 comentários:

  1. um poema lindo, quando as palavras são quase impossíveis.

    um abraço

    mário

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  2. mario, meu irmão ou meu filho, porque já o adotei, a dor é forte. machuca. sangra, destrói. mas passa. o vazio incomoda.

    j.

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  3. Belo poema, Júlio.
    Quando não há palavras certas para dizer, quando todas as palavras perderam o sentido,
    qualquer palavra, ah, qualquer, desde que preenche o vazio.
    Você o diz bem: o vazio incomoda. A poesia, a oração (a poesia é uma forma de oração), a amizade preenchem o vazio.
    Um abraço amigo.

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