“O universal é o local sem paredes.” (Miguel Torga) "Escrever é um ato de liberdade." (Antônio Callado) "Embora nem todo filho da puta seja censor,todo censor é filho da puta." (Julio Saraiva)

quarta-feira, 30 de junho de 2010

QUASE UMA BIOGRAFIA DO POETA

para a minha amiga lúcia elena (assim mesmo sem h), a lucinha - consagro

"Se a vingança encara,
O remorso pune..."

Paulinho Pinheiro e Maurício Tapajós - na época da dita



venho de uma geração de poetas loucos
que já não padeciam mais de luas cheias
porém mesmo assim iam-se matando aos poucos
em versos surrados nas grades das cadeias

e venho filho de uma geração perdida
e de boca calada pela ditadura
sou brasileiro de uma geração fodida
peço perdão se trago rimas sem candura

bem minha mãe dizia - é melhor ser padre
do que levar a pecha de subversivo
mas que culpa tenho se sem vocação comadre
vim parar num mundo assim meio que explosivo?

agora nada tenho só por culpa minha
mas na briga sou pior que galo na rinha

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Júlio Saraiva,
São Paulo, Brasil
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terça-feira, 29 de junho de 2010

MELANCOLIA TALVEZ

Para Juliana

"Somos todos prisioneiros das nossas origens."
- E.M. Cioran -


minha mãe nunca ouviu falar em voltaire
nunca leu proust e nem sartre
jamais se chocou com o retrato de dorian gray
porque ignorava oscar wilde
da minha poesia ela também não gostava
- Te criamos com todos os mimos e você está sempre
revoltado, e ainda deu de escrever palavrões. Quem vai ler
isso?

de minha mãe o que sei é que - além de me por no mundo
por uma trepada talvez mal dada -
foi a mulher mais bonita do bairro
arrancada do cinema onde fez dois filmes
pelo machismo do meu pai:
- Toda atriz é puta - ele dizia, bebendo as pernas de odette lara

quando nasci prematuro
- tirado a fórcepes -
minha mãe me colocou o nome dos dois avós
o júlio eu tolerei e o carrego até hoje
o carlos eu aboli - não tinha efeito poético
minha mãe morreu sem me perdoar por isso
mas meu avô carlos como bom português
por certo fez que entendeu

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Júlio Saraiva,
São Paulo, Brasil
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CANTIGA PARA UMA AUSENTE



"Até que o amor nos dividiu
O amor parou
Ela seguiu
Sem compaixão de me deixar
Com esse amor que é de assustar..."

A Grande Ausente,
versos do poeta Paulo César Pinheiro
com melodia do maestro Francis Hime



pois até tua ausência é doce amiga
que se danem minhas penas no inferno
se nas notas desta minha cantiga
o meu amor ainda é sempre eterno

mas se a poesia por mal me intriga
pelo mais sagrado me não consterno
e lento bebo esta sorte inimiga
dando-te em paga meu olhar tão terno

e é nessas horas que me tranco de mim
erro nas sílabas caio do verso
no teu mundo bordo meu universo

sempre esperando minha hora do fim
e comigo eu já nem mesmo converso
por que esta vida há de ser sempre assim?

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Júlio Saraiva,
São Paulo, Brasil
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sábado, 26 de junho de 2010

UM POEMA DE RICARDO SOARES, MEU AMIGO (*)

Eu broto do meio da marginal congestionada
a fina flor da maçada
paulistana a criar galhos
entre os edifícios e os trens cheios
que partem para Francisco Morato...
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Ricardo Soares,
São Paulo, Brasil
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(*) Além de jornalista e meu amigo de
mais de trinta anos,Ricardo Soares,entre brigas e bebedeiras
- ele não bebe como eu -, é escritor e poeta.
Pai do Guilherme. Publicou vários livros, muitos
para crianças - coisa que eu não tenho talento, entre eles
O Brasil é feito por nós?, já em várias edições. O texto
que aqui publico é roubado, sem o consentimento do
autor. Ia usá-lo como epígrafe de um poema que pensei.
Mas gostei tanto que temi assassiná-lo.
Ricardinho, um beijo.

sábado, 19 de junho de 2010

CONVIDO-TE...

convido-te a passear pela aurora
antes que o dia chegue e estrague tudo
trazendo chuva fina fora de hora
no rosto cinzento de um céu sisudo

convido-te a sair infância fora
entrar no castelo do rei barbudo
saudar à rainha boa senhora
consultar o mago que é surdo-mudo

convido-te como o infeliz que chora
o choro compungido o pranto agudo
de quem mal chegou mas já vai embora
levando pressa no passo miúdo

convido-te - precisa ser agora
antes que o dia chegue e estrague tudo

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Júlio Saraiva,
São Paulo, Brasil
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sexta-feira, 18 de junho de 2010

TODA ESTA CASA

toda esta casa
toda esta alma
cabem na palma
cabem na asa

todo este drama
todo este espanto
cabem num canto
qualquer da cama

o olhar ferido
do espelho corre
(quem o socorre?)

já sem sentido
só um gemido
da boca escorre

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Júlio Saraiva,
São Paulom, Brasil
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quinta-feira, 17 de junho de 2010

BOTEQUIM

Manejo de pratos
Laços fartos
Cachaça com limão
Samba canção
Saudade dos amasios

Diana Balis, Rio de Janeiro, 29 de maio de 2010

segunda-feira, 14 de junho de 2010

POEMA DA DIFAMAÇÃO DO POEMA

o poema deixa-se esparramar
na poltrona rasgada
imprestável
destinada ao lixo


última flor do lixo o poema

a merda sente nojo do poema
embora o poema seja a alma podre da merda

o poema faz um tour pela cracolândia de sampa
o poema desaba
na sarjeta
o poema grita pela boca
dos que
desabam
na sarjeta

o poema respira o hálito que sai
da boceta da puta mais fodida do parque dom pedro

o poema atravessa a zona do mercado municipal
o poema vai desaparecer
definitivamente
nas águas do tamanduateí
numa sexta-feira à tarde
debaixo
de um temporal

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Júlio Saraiva,
São Paulo, Brasil
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LITANIA

meu amor é fúria
meu amor é fera
meu amor é farra
meu amor é força
meu amor é farsa
meu amor disfarça
e vê se eu tô lá fora

meu amor não finjas
meu não forjes
meu amor não fujas

meu amor é trova
meu amor é trevo
meu amor é travo
meu amor trovão
meu destrava
esquece a chuva fina
meu amor de tempestade
meu amor de furacão

meu amor de anteontem
meu amor de amanhã ser
meu amor... amanhecer

13-06-10
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Júlio Saraiva,
São Paulo, Brasil
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MÁRMORE

a beleza pálida das antigas noivas mortas...


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Júlio Saraiva,
São Paulo, Brasil
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sábado, 12 de junho de 2010

SONETO PASSADISTA

venho aos tropeções lá do meu passado
as lembranças que trago são ruínas
restos do que deixei pelas esquinas
luz morta de um olhar despedaçado

trago no bolso o pavor do enforcado
mais um destino feito de mil sinas
duas navalhas com lâminas finas
nas minhas mãos os frutos do pecado

de mim mesmo nada tenho a oferecer
meu pouco de bom foi parar no lixo
meu são francisco até fugiu do nicho

porque por mim nada tinha que fazer...
hoje respiro apenas por capricho
ou - quem sabe? - por vergonha de morrer

12-06-10
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Júlio Saraiva,
São Paulo, Brasil
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sexta-feira, 11 de junho de 2010

ÀS VÉSPERAS DOS SEUS OITENTA ANOS, O MAIOR POETA BRASILEIRO LEVA O PRÊMIO CAMÕES

Não há o que contestar. O maranhense Ferreira Gullar, pseudônimo literário de José Ribamar Ferreira, é o maior poeta brasileiro em atividade. Ele vai completar 80 anos no dia 10 de setembro. Mas, como suas últimas aparições públicas revelam, continua com a mesma disposição do menino que um dia saiu da sua São Luís com destino ao Rio de Janeiro, para receber um prêmio de poesia, e acabou ficando. No dia 31 de maio, Ferreira Gullar foi anunciado ganhador da vigésima segunda edição do Prêmio Camões, a mais importante láurea concedida a escritores de língua portuguesa.
Cabelos brancos cobrindo parte do rosto magro, Gullar ainda lembra o Periquito, como era chamado pelos amigos de infância e adolescência, na histórica São Luís, capital do Maranhão, estado que ao lado do vizinho Piauí, é apontado o mais pobre do Brasil.
Ferreira Gullar é mais um José Ribamar no Maranhão. E explica-se. O nome grassou por aquelas bandas por conta de uma imagem de São José encontrada por pescadores boiando nas águas do mar. Os padres, na época, tinham a artimanha de atirar nos rios e também no mar imagens de santos. Logo que eram achadas, a notícia se espalhava. O povo via o fato como uma graça divina, e os religiosos aproveitavam-se para erguer igrejas no local, exemplo semelhante ao que ocorreu na cidade de Aparecida do Norte, em São Paulo. Como a imagem de São José foi encontrada sobre as águas salgadas, vem daí o nome Ribamar - riba, em cima - ribamar em cima do mar. De lá até hoje, mais da metade dos meninos nascidos no Maranhão passaram a se chamar José Ribamar, entre eles o nosso Periquito e também o ex-presidente e atual senador José Sarney.
- O senhor é o poeta Ferreira Gullar?, perguntou uma moça ao vê-lo caminhando pelas ruas do Rio de Janeiro.
- Às vezes, ele respondeu.
Em entrevista concedida recentemente à TV Cultura de São Paulo, Gullar explicou:
- Não sou poeta vinte e quatro horas por dia. Sou José Ribamar. Jornalista de profissão.
Jornalista, crítico de artes plásticas, ensaísta e dramaturgo, além de poeta - claro -, Ferreira Gullar é uma das maiores inteligências brasileiras. Inteligência, porém, que o governo da ditadura militar, implantada no Brasil em 1964, como manda a lógica em se tratando de militares, não reconheceu.
Gullar foi preso. Amargou exílio no Chile, Rússia e Argentina. Para sobreviver, dava aulas particulares de português. Quando regressou ao Brasil, ainda foi e submetido a longo interrogatório policial. Coisas dda ditadura.
Seu primeiro livro, Um Pouco Acima do Chão, é de 1949. Mas a fama mesmo viria na década de 50, com A Luta Corporal, que, para espanto do poeta, numa livraria do Rio foi colocado na parte de livros esportivos por total ignorância do funcionário da casa.
De espírito inquieto, sempre disposto a renovar, Gullar fez diversos experimentos com a poesia. Passou pelo concretismo, criou o movimento neoconcreto e escreveu também poesia de cordel. Mas foi no exílio em Buenos Aires, depois de dois anos sem escrever uma única linha, o que o levou a um pesado estado de depressão, que ele concebeu a sua obra mais importante - Poema Sujo, no qual narra toda a sua trajetória por São Luís. Reconstrói, como quem pinta uma tela com palavras, toda a cidade histórica onde nasceu e passou a infância e a adolescência.
Gullar achava que ia morrer. Poema Sujo, considerado um dos maiores poemas épicos da língua portuguesa, é quase uma espécie de testamento do poeta. Coube a outro poeta, Vinícius de Moraes, o privilégio de conhecer em primeira audição os versos do amigo exilado.
Numa fita cassete, com Gullar declamando com sua voz forte e o carregado sotaque nordestino, Vinícius trouxe o Poema Sujo, escrito entre maio e outubro de 1975, para o Brasil. Foi uma audição seleta. Ênio Silveira, da editora Civilização Brasileira, logo tratou de publicá-lo, mesmo sabendo que poderia ter problemas com o governo da época.
Ferreira Gullar é o nono brasileiro a receber o Prêmio Camões, instituído em 1988, em comum acordo entre os governos brasileiro e português. O primeiro a conquistá-lo foi o português Miguel Torga.


TRADUZIR-SE

Uma parte de mim
é todo mundo;
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.

Uma parte de mim
é multidão;
outra parte estranheza
e solidão.

Uma parte de mim
pesa, pondera;
outra parte
delira.

Uma parte de mim
almoça e janta;
outra parte
se espanta.

Uma parte de mim
é permanente;
outra parte
se sabe de repente.

Uma parte de mim
é só vertigem;
outra parte,
linguagem.

Traduzir uma parte
na outra parte
- que é uma questão
de vida ou morte -
será arte?

- FERREIRA GULLAR, in Na Vertigem do Dia -


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Júlio Saraiva,
São Paulo, Brasil
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quarta-feira, 9 de junho de 2010

DOIS NOTURNOS

I

o bêbado
vomita uma rosa
na esquina
põe-se de joelhos
e agradece aos céus
pelo milagre
depois sai dançando
sob um guarda-chuva
de infinitos

II

o que existe é o silêncio
pesado
inchado como nuvem grávida
de temporal
por mim saía pela noite
assobiando assobiando
até me perder
nos cus de judas

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Júlio Saraiva,
São Paulo, Brasil
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SONETO DESENCONTRADO

vosso macio casaco de carne
meu espatifado silêncio de ossos
vossos olhos desafio das trevas
meus passos cegos a implorar uma luz

vossa ternura de flautas na noite
meu pássaro que se enforcou no cantar
vossos códigos de maduras marés
meu correr dáguas de rios cansados

vossos países saídos dos contos
meu trem de ferro fugindo dos trilhos
nossa distância sempre mais distante

vosso natal vossa missa do galo
meu finados minha missa de réquiem
nosso partir - um ao outro: até nunca!

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Júlio Saraiva,
São Paulo, Brasil
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terça-feira, 8 de junho de 2010

COMO QUALQUER COISA

não me apresentes amor
como qualquer coisa
não ajas assim amor
como ladra
silêncio a bem do futuro
não tarda
sai de cima do muro
se guarda
logo o fruto fica maduro
me aguarda
se a dor for arder assim
não arda

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Júlio Saraiva,
São Paulo, Brasil
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segunda-feira, 7 de junho de 2010

TALVEZ UM SONETO DE BOTEQUIM

ontem ana pensei em cortar os meus pulsos
e morrer em sossego e só mais uma vez
e ver de mim todos os fantasmas expulsos
entregar-me à minha morte em total lucidez

um dia bem até que tentei ser poeta
a rima me vinha de repente num piscar
logo inventava uma qualquer paixão secreta
mas depois ana dava de me faltar o ar

é que em seguida ana eu sempre me perdia
e pra poder chorar tornava-me criança
chorava assim tão fácil por qualquer lembrança

que tenho na tristeza a derradeira herança
desta minha vida tão pobre tão vazia
que mesmo respirando morro a cada dia

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Júlio Saraiva,
São Paulo, Brasil
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Amor afetuoso

No carinho do aconchego

O colo é ameno sossego

No abraço acalentador

Aguardo o momento de amor



Nos refúgios silenciosos

Dos olhares maliciosos

Sinto o presente galanteador

O calor da paixão é frescor



O tempo é entregue ao adorar

Vivido no horizonte ao entreluz do luar

Ao encontro da maré cheia ancorar.


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Diana Balis,
Rio de Janeiro, Brasil
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BALADA EM VERSOS BRANCOS DO SER E DA MORTE

"caminho nos silêncios da casa
e na perseguição da luz
o olhar acende o pó da mobília."

- José Félix, in Teoria do Esquecimento -


não! a casa não é o que pensas
e nem onde sonhas morar
a casa é só um lamento
teu uivo de loba assustada
a casa em seu todo nada nos oferece

se me emprestasses um suspiro teu
por acaso eu ia dormir feliz
fazendo de conta que o vento
me veio contar uma história

era uma vez qualquer coisa...
e o final - ana - era quase sempre feliz

era uma vez ana
quando um dia segurei o teu queixo
e tu me devolveste um sorriso
foi numa quarta-feira de cinzas

era uma vez ana...

e havia no meio da história
um coelho que era dentuço
morreu na semana santa
traiu são judas tadeu
e vê só aí no que deu

era uma vez ana
um poeta a perder de vista
a morrer de medo
sem ter o olhar de drummond
sem a qualidade de bandeira
sem o deboche de o'neill

era uma vez uma praga
mas não deves dizer nada a ninguém
(guarda a rosa em segredo)


Oferenda:

era uma vez eu mesmo


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Júlio Saraiva,
São Paulo, Brasil
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sábado, 5 de junho de 2010

11.

11.


se quiseres reinvento-te no espelho
ou numa tela de pintura
por muitos restos de pincel ou tinta
que fique no quadro e na sombra do vidro
o viço do teu olhar continua a ter
a transparência da água
que o tempo fixa e se reflecte em mim.

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José Félix,
Luanda, Angola
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terça-feira, 1 de junho de 2010

Amar é linha!

Vamos
Pular
Corda?
A Fogueira
Do João
Corta
Pão,
Maria faz o
Angu?
E na
Gangorra
Escorregador!
Cai cai
O Balão,
E puxa
A rabiola
Da Pipa?
Subindo no
Alpinismo
Inflável,
O algodão é doce,
A pipoca é salgada.
Perna de pau,
Bamboleia!
Juntos no
Pingue
Pongue.
Na luta de gel,
O carrossel
Gira,
Vamos
Rodar
A Baiana?
Ou cair
Na piscina
De
Bolinhas?

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Diana Balis,
Rio de Janeiro, Brasil
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NA INTIMIDADE COM DEUS

"deus não dorme" - dizia minha mãe
(e deus era sempre vigilante)
eu nos meus sete anos sentia pena de deus
e ia dormir com os anjos
e sonhava também com os anjos
e sentia muita pena de deus

(como pode alguém não dormir?
como pode alguém mesmo sendo deus
ficar tanto tempo acordado sem sentir
náuseas/dor de cabeça?)

tá certo que descansou no sábado
aprendi depois
quando estava mais crescido
mas mesmo assim deus dormiu um só dia
depois de criar o mundo
trabalho pra lá de danado

(como pode? quem não dorme não sonha
assim deus apesar de ser deus também não sonhava
mas eu nos meus poucos sonhos que poucos sonhos não eram
sonhava com as pernas de ana
e maculava meus lençóis de pecado
mas como deus por ser deus não sonhava não porque fosse deus
e sim porque não conhecia a intimidade morena
das pernas morenas de ana)

"deus não dorme" - minha mãe repetia
e eu homem feito e crescido
agora não dormia também
doente de tanta insônia (seria a insônia de deus?)

deus não dorme - penso eu que não creio
hoje homem já velho
que não tenho mais sonhos no mundo
e nem me lembro das pernas de ana
e passo as noites em claro
andando de um lado pro outro
fumando um cigarro após outro
entendo a insônia de deus
e lhe vou fazer companhia

deus não dorme
eu também não
(será castigo pelos sonhos que eu tinha
com as pernas morenas de ana?)

- mas meu deus! as pernas morenas de ana... ah isso já faz tanto
tempo...

deus não dorme

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Júlio Saraiva,
São Paulo, Brasil
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