“O universal é o local sem paredes.” (Miguel Torga) "Escrever é um ato de liberdade." (Antônio Callado) "Embora nem todo filho da puta seja censor,todo censor é filho da puta." (Julio Saraiva)

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

PARA ALEXANDRE O'NEILL

"Mas sofre de ternura, bebe demais e ri-se
do que neste soneto sobre si mesmo disse..."
(Alexandre O'Neill)

também bebo demais e rio-me
das penas deste purgatório - não o de torga -
que construí para mim mesmo
tenho pesadelos terríveis em decorrência do álcool
sonho sonhos de necrotério
ainda ontem alexandre vi meu corpo nu
exposto na morgue
acordei suando frio
fui à janela e olhei para o céu
havia uma gorda lua cheia debochando de mim
pela manhã tive a certeza de que continuava vivo
olhei meu rosto no espelho
e reparei que meus olhos estavam mais tristes
do que de costume
a puta da minha vida tem disso
as mulheres me roubam a consciência de homem
nessas horas queria ser o poodle da minha vizinha
come bebe ignora o tempo e vive cercado de mimos
esta vida do caralho está sempre a nos dar bananas
agora dei de beber pela manhã
gosto do desprezo com que me olham no bar
o sofrimento para mim é um vício que não vou largar nunca
escrevo meia dúzia de poemas e me dou por satisfeito
tenho a capacidade de morrer quando quero
mas o porteiro do prédio onde moro não sabe disso
minha vizinha diz que sou louco
de vez em quando até sou
(louco de saudade de mim)
sempre quando converso comigo acabo em discussão
desculpe se o poema está ruim
amanhã cedo faço outro melhor

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Júlio Saraiva,
São Paulo, Brasil
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