acordou às cinco, às seis rezou no parque, às dez enfrentou fila no banco. conformada, voltou ao apartamento, conferindo o dinheiro. quieta, meteu-se em tarefas domésticas. e foi aí que se lembrou de Teresa de Ávila, a grande doutora da igreja, em suas atormentadas reflexões místicas: "Deus está presente até nas panelas..." nas panelas, ela disse consigo mesma, enquanto engolia o almoço de quiabo com carne. "Deus está presente até nas panelas... tardezinha, escutou confissões atormentadas, deu conselhos, profanou, sentiu vontade de rezar, como o fizera de manhã, mas não no velho Livro de Horas, cheio de culpas e arrependimentos, que jazia no criado-mudo. quis rezar, sim. por isso foi à estante e apanhou Garcia Márquez, o seu anjo Gabriel. leu, bebeu frases e imagens, sentiu comichões na alma. chorou um pouco e compreendeu, pela primeira vez, a rigidez da vida extra muros.
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Rosangela F.C. Borges,
São Paulo, Brasil
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