Uma nuvem virou panamá
na cabeça do ocaso.
Um colibri fechou os olhos
da folha morta.
Os cães vinham de longe,
atraídos pelo cheiro doce
das pedras no cio.
O arco-íris soprava
aos ouvidos das águas
frases arrancadas do Livro de Jó.
Tu colhias a rosa-dos-ventos
com mãos de saudade.
Depois, em passos de minério,
retornavas ao princípio das coisas.
-Todas as coisas
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Júlio Saraiva,
São Paulo, Brasil
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Caro Júlio,
ResponderExcluirEste seu poema evocou-me este outro, de Fiama Hasse de Pais Brandão, por causa do retorno "ao princípio das coisas", ou do "retorno aos elementos".
Espero que não se importe que o deixe aqui.
"Quando passa o tempo, as coisas
retornam aos elementos. E as cria-
turas. Para a transformação
final. Mas nem o fim
permanece. O cardume dos lagos
que morre embranquecido
por fim é de água. Os boquilobos
multicolores na beira das áleas
caem na terra e são terra."
Fiama Hasse Pais Brandão, in Três Rostos - Ecos
Também a poesia de Maria Madrugada me recorda, por vezes, Fiama Hasse de Pais Brandão.
ResponderExcluirLaura,
ResponderExcluirFiame Hasse Pais Brandão é dos meus autores favoritos. Leio o seu generoso comentário com a Obra Breve, não tão breve, dela em minhas mãos. Tenho muita estima e admiração também pela Anita, a Maria Madrugada, que me honrará muito se escrever aqui também. Desculpe ter demorado a responder-lhe. Andei ausente, por conta de uma fratura no pé, que me vem incomodando. Pórtico, na verdade, foi tirado do meu livro Liturgia dos Náufragos e postado pela Adriane B. O bom gosto, na escolha, é todo dela. Mais uma vez, obrigado.
afeto.
j.