“O universal é o local sem paredes.” (Miguel Torga) "Escrever é um ato de liberdade." (Antônio Callado) "Embora nem todo filho da puta seja censor,todo censor é filho da puta." (Julio Saraiva)

terça-feira, 27 de outubro de 2009

OS TRÊS SONETOS DO HOSPÍCIO

I

(farmácia)

LEXOTANDIEMPAX
LORAXDIAZEPAN
LOTADIAZEPAX
LEXORAXDIEPAN

PANLEXOTAPAX
PAXDIALORAPAN
DIELEXOZEPAN
LORAPANLEXOPAX

LEXOLORAZEPAX
PAXLOTANLEROPAN
DIEMLEXORAPAX

LEXODIAZEPAX
ZELOLEXOTAPAN
LORALEXDIE(M)PAX


II

cachorros magros atravessam esta tarde
os punhais da morte riem-se à minha frente
trago hospitais & igrejas velhas na memória
paguei bem alto o preço da minha loucura

agora é tarde muito tarde para negar
a estrela ferida no cio me convida
uma mulher chora sobre o meu corpo morto
ela tem o rosto todo roxo de pavor

eu só desejo juntar-me aos cães nesta tarde
nesta tarde sinistra onde tudo é lembrança
identifico-me como o meu assassino

cinza meu terno de louça partiu-se ao meio
mas muito me alegra estar no pátio entre os loucos
quero que o passado se foda... nesta tarde!


III

mais morto do que vivo num final de tarde
eu pisava lento o chão dos meus descaminhos
sentindo o calafrio próprio do covarde
ao ver-me assim defunto todo envolvo em linhos

supliquei aos céus: - Não quero anjo que me guarde!
de um velho sábio roubei 7 pergaminhos
prestei honras a dante charles & leopardi
tocado pela força mágica dos vinhos

blasfemei os santos & profanei altares
quando me perceberam fora do juízo
as putas me acolheram em seus lupanares

caí de vez no mundo sem deixar aviso
loucos & vagabundos foram os meus pares
nos quintos dos infernos fiz meu paraíso

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Júlio Saraiva
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