o poema em seu todo
pode às vezes vir da flor
como pode vir do lodo
pode vir do olho do cu
mas também vem do sacrário
vem do voo do urubu
ou do canto do canário
o poema é brinquedo
é recreio da palavra
o poema vem dos olhos
encovados de quem lavra
o chão a terra que não tem
o poema está a dez
o poema está a cem
bem no meio dos escolhos
ou na noite do meu bem (*)
o poema em qualquer parte
pouco importa onde está
pouco importa de onde vem
pode ser de deus a arte
praga do demo também
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(*) Alusão à canção A Noite do meu Bem, composta
e gravada por Dolores Duran, na década de 1950.
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Júlio Saraiva
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