É mais uma guerra que se vai. Acompanho a contagem dos mortos. E, ao me descobrir entre eles, respiro aliviado. Desta vez, percebo que não danificaram tanto o meu corpo. Pelo contrário, tenho até a metade de um sorriso nos lábios, que já começam a exibir sinais de palidez. Ainda trago os olhos abertos. Os braços e as pernas largados num, digamos, desleixo cadavérico. Não fosse este rombo aqui no peito, causa da jaqueta de brim bastante ensanguentada, qualquer um diria que morri de morte natural.
Na outras guerras em que estive, a coisa foi bem diferente. Eu sequer tinha coragem de olhar o meu rosto, tantos foram os danos provocados pela ira adversária. Isso tudo sem contar os pedaços de mim, impiedosamente arrancados, inclusive os olhos, porque a cegueira sempre me pareceu o pior dos castigos. Cego, ainda que sobrevivesse, num ato de desespero, eu mesmo me incumbiria de terminar o serviço, preservando o inimigo do desagradável tiro de misericórdia.
Mas, não. Agora devo admitir que o algoz foi generoso e limpo. Só achei estranho ter deixado, ao lado do meu corpo, uma camisa de força. Não estou bem certo, mas só se deve usar esta peça de imobilizar loucos, quando a presa oferece resistência, reunindo, onde não se sabe, a força de dez homens juntos.
No entanto, comigo nunca foi assim. Não sou de oferecer resistência. Assumo minha condição de presa fácil. Nunca me envergonhei da derrota. Prefiro que tudo acabe logo. Desde muito cedo, aprendi que uma guerra sem vencedores não tem a menor graça porque nem guerra seria. Em criança, assistindo aos xaroposos filmes que exibiam confrontos entre índios e mocinhos brancos, mesmo conhecendo o final, eu torcia pelos índios. Talvez venha daí o meu apreço pelos vencidos. E, assim, quando amanhã ou depois, eles acharem de escrever suas derrotas, queiram até colocar o meu nome na galeria dos seus heróis.
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Júlio Saraiva
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Sempre encontrei no Heroi um certo fascinio,talvez por seu altruismo,sua coragem,sua força de vontade,sua determinação e principalemente sua fé, porque se entrega de corpo e alma ao martírio(auto-sacrificio)no ideal de sua busca por liberdade,justiça, moralidade num misto de proposições e boa vontade.
ResponderExcluirTocante sua cronica,
beijocarinho, Lu
Lu,
ResponderExcluirsó agora li o seu comentário. quero sua presença por aqui. seja bem-vinda. a casa é sua também.
afeto do júlio