minha poesia não foi educada
na escola de bilac
e nunca será convidada para o chá
dos imortais na academia brasileira de letras
minha poesia anda descalça pelas ruas
do centro velho de são paulo
nenhum tradutor francês perderá seu tempo
debruçado sobre ela
nem será lembrada nos saraus familiares
não a dirão nas escolas
nos dias de festas cívicas depois que a
bandeira nacional onde se lê Ordem e Progresso
for hasteada por uma menina loura
minha poesia sai todos os dias
muito cedo da favela de heliópolis
pega o ônibus lotado
desce pela porta da frente sem pagar a passagem
e vai vender balas no cruzamento da brasil com a rebouças
minha poesia é aquela mulher despudorada
que se oferece a qualquer um sem cerimônia
se bobear assalta e é capaz até de matar
minha poesia se alimenta do lixo das palavras
podres proibidas que não cabem na boca
das pessoas ditas de bem e por isso deve ser execrada
de todas as antologias e condenada a trinta anos de silêncio
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Júlio Saraiva
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bela poesia!
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ResponderExcluirobrigado.
ResponderExcluirj.