Há que se reconstruir esculturas
Com ferros de tanques de guerra.
Olhar de cara limpa destemida
Para a Luftwaffe,
Enquanto se come a lama da terra.
Há que se saber do amigo
Nos braços vomitando
Coragem, desgraça, sujeira.
Há que se saber da garganta
Chupada
Pelos dedos apodrecidos,
Do fedor das gangrenas,
Dos rádios sem antenas...
Há que se verter brio dos olhos
Para além de poemas-poemas.
Há que se desenterrar
Das sepulturas opressoras
Os quadros tingidos à sangue.
Há que se experimentar,
Ao menos uma vez na vida,
O horror das rachaduras
Dos pés desfraldados,
Até os joelhos no mangue...
Costurar a cabeça no pescoço,
Redesenhar os tantos sorrisos,
Estancar as feridas vazando dor
Há que se ser: também é preciso.
Há que se repintar as bandeiras
Mofadas das pátrias amadas, irmãs
(Irmãs?)
E cravá-las nas mentes
Vadias, sãs, vazias...
Há que se escrever poesia,
Explodir farsas e glórias,
Recontar história.
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Edílson José
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