amanhã
quando eu morrer de overdose
ou de qualquer outra coisa
guarda na tua carteira
o meu último poema
como um retrato sem cor
esquece meu olhar assustado
as noites que passei em claro
e o meu jeito triste de ser
amanhã
minha amada eu serei apenas ontem
mas não conta a ninguém que fui mau poeta
que bebia de cair na rua
e por muito pouco não fui parar na sarjeta
havia uns poucos dinheiros de família
para um funeral mais honesto
amanhã
minha flor quando o sol não se abrir aos meus olhos
fala aos amigos
que a vida é assim mesmo
afinal mais dia menos dia tinha de acontecer
amanhã
minha linda amanhã...
peço-te não chores e nem te debruces sobre o meu corpo
o corpo perece
e no dia seguinte dele ninguém se lembra
amanhã...
amanhã
minha estrela amanhã...
vai até à java
pede ao bom amâncio um copo de vinho
bebe-o todo por mim
manda pendurar na minha conta
e diz que eu descansei quase em paz
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Júlio Saraiva,
São Paulo, Brasil
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