“O universal é o local sem paredes.” (Miguel Torga) "Escrever é um ato de liberdade." (Antônio Callado) "Embora nem todo filho da puta seja censor,todo censor é filho da puta." (Julio Saraiva)

segunda-feira, 19 de julho de 2010

ERA PARA SER UM POEMA DE AMOR

arrepia os acordes elos da espinhal-medula
tal abelha sem colmeia. carnívora
morde as pernas em toques de mel
explora jardins por um postigo a sul.

desconfio que tenho uma colmeia no meio do meu jardim.

um anel de azeviche enviado como prenda
lacre envelope branco emprenha
estreita fricha no postigo
sob o sol do teu meio dia
de lanternas maçãs maduras

então no trilho calmo de uma vasta curva
mudas de roupa, respingas dentes de rodízios
um sedar de treva-flor se avizinha
excelente trocar de cuecas para mochos.

desconfio que tenho um boticário no meio da minha cozinha

enxame secular
mordisca o ar
onde se escuta o entoar dos dedos gordos de um velho hipnotismo
marca inúmeros encontros comigo
telefónicas memórias adubam a minha terra já farta.

desconfio que tenho um saco de estrume no meio do meu caminho.

uma brisa beija violentas violetas calmamente
em ramos alaranjados a treva agreste
ao pé do quiosque da esquina
um jornal de folhas secas
sabem a jacintos.

como te sinto.

desconfio que tenho radares, bússolas, quadrantes,
sextantes, muletas e enxadas
que transporto nas bossas de camelo,
atiradas contra o disparate que não mais dá troco a de-
lírios,
pr'além dos espinhos das rosas que não forçam mais areia.

Estás aí? conhecer. Teu
marsupial coração que recolhe o essencial do que conheço.

____________________
Maria João Mesquita,
Porto, Portugal
___________________

2 comentários:

  1. mário,

    gosto muito da poesia da maria joão. quando bati os olhos neste poema me encantei. gosto do despojamento da poesia. do atrevimento, até. vou pedir pra ela responder seu comentário. problema é que ela desaparece de vez quando.

    j.

    ResponderExcluir

Compartilhe o Currupião