"Trem sujo da Leopoldina
correndo
correndo
parece dizer
tem gente com
fome
tem gente com
fome
tem gente com
fome
Piiiiiiii
(...)
mas o freio
de ar
todo autoritário
manda o trem calar
Psiuuuuuuuu
(Solano Trindade)
tem gente com fome
solano solano
tem gente com fome
tem negro tem branco
tem branco tem negro
solano solano
morrendo de fome
no chão do brasil
tem gente com fome
no chão desta pátria
patriamada brasil
mas nem sempre solano
mãe tão gentil
tem gente doente
tem gente demente
tem gente que mente
promete pro povo
mas foda-se o povo
que o povo é estorvo
tem gente morrendo
partindo partindo
no bico do corvo
solano solano
passa mês entra ano
e o brasil continua
a ser um engano
tem negro tem branco
tem branco tem negro
só respirando
o ar podre dos dias
solano solano
tem gente indigente
coberta de trapos
dormindo nas ruas
no meio dos ratos
tem gente morrendo
tem gente matando
tem gente mentindo
sem crescer o nariz
passa mês entra ano
sola solano
isto aqui é um país?
- não!
o brasil é um engano
um passarinho me diz
__________________
(*) Solano Trindade (1920-1974) poeta, artista plástico, ator e ativista político, foi dos mais significativos intelectuais negros do nosso tempo. Sempre precupado com as questões da sua gente, lutou, com extrema coragem, contra o preconceito, o que lhe custou diversas prisões. Viveu algum tempo no município do Embu, na Grande São Paulo, hoje Embu das Artes. Morreu pobre, quase esquecido. Sua filha, a atriz Raquel Trindade, que seguiu o mesmo caminho do poeta, mora no mesmo Embu das Artes, onde cuida da Fundação Solano Trindade.
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