Se, quando não se esquece, a dor se anunciasse,
A dor de dor se ter na certa nos movesse,
E a falta de doer talvez não mais doesse.
Que passe a se ter dor em tudo e tudo passe!
Viver-se apaziguado assim, e sempre nesse
Bem calmo estar-se e ter-se e dar-se apaziguasse!...
Mas se mais paz eu penso que acabasse
Num desespero mais que aquele que eu tivesse!
Dirão a mim: - Poeta, assim também não pode.
Se tens uma agonia, louva-na numa ode.
E se posto em sossego, num soneto o traga...
E eu direi a quem disser pra mim: - Não fode.
Que o espasmo de um poeta é feito em dor e chaga
E quem diz que não na própria cabeça caga.
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Paulo César Pinheiro,
Rio de Janeiro, Brasil
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