eu escrevi um poema
para uma mulher triste
uma mulher que eu não sei quem é
nem ela sabe quem eu sou
eu escrevi um poema
para uma mulher triste
rosto marcado por rugas precoces
eu escrevi um poema
para uma mulher que eu nem sei quem é
sei apenas que é triste
e tem o rosto marcado por rugas precoces
eu escrevi um poema
para uma mulher que eu nem sei quem é
e nem ela sabe quem eu sou
mas é uma mulher triste
rugas precoces no rosto
e uma criança nos braços
a sugar-lhe o seio murcho
eu escrevi um poema triste
para uma mulher triste
que estava sentada num degrau da escadaria
da catedral da sé de são paulo
com uma criança nos braços
a sugar-lhe o seio murcho
eu escrevi um poema triste
mas o poema não vai mudar a vida dessa mulher triste
que estava sentada num degrau da escadaria
da catedral da sé de são paulo
sem que o arcebispo metropolitano
tomasse conhecimento da sua existência
o arcebispo metropolitano é cheio de afazeres
não tempo para mulheres tristes
a mulher triste nunca vai saber quem eu sou
nunca se ocupará em ler
o meu poema
eu escrevi um poema triste
para uma mulher que tem tristeza demais
e nenhum interesse em saber o que é um poema
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Júlio Saraiva,
São Paulo, Brasil
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e muito inspirado
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