“O universal é o local sem paredes.” (Miguel Torga) "Escrever é um ato de liberdade." (Antônio Callado) "Embora nem todo filho da puta seja censor,todo censor é filho da puta." (Julio Saraiva)

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

CHÃO SEM FUNDO

Nada muda
Nada
A porta absurda
Trancada está
E nem fechadura
Tem.

Abro a janela
E estou emparedada.
Tijolos ao redor
E nada mais.

Se estou só?
Ouço apenas
A minha voz:
Eco sem vibração.

Comida fria,
Apenas água na geladeira
E essa dor e essa febre
Ardendo tanto a minha
Língua, íngua.
Não consigo me mover.

Pelo lado de dentro
Te reflito: aflito espelho
Que não me olha nos
Olhos.

A gaveta aberta
Está atulhada de você,
De palavras que morrem
E nunca morreram,
De desespero,
De vontades,
De tudo
Que
Cai
De
Mim
Quando
Não consigo
Fechar os braços
E te segurar
Dentro do meu corpo.

Afundo no
Sofá rasgado,
Nas almofadas
Sem cor, na casa
Sem paz.
Afundo no chão
Sem fundo,
Afundo
No amor.


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Karla Bardanza
Rio de Janeiro, Brasil
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