para ana cristina cesar, hilda hilst e orides fontela, pela alta poesia que fizeram - nem sempre entendida. a torquato neto também, poeta brilhante e que foi tão cedo.
tenho sonhos tristes
e me pego sempre no purgatório
(alma penada saio fugindo de mim mesmo)
se me esbarro na rua peço licença
tenho um cigarro entre os dedos
e um olhar de culpa
meus óculos enjoaram dos meus olhos
e nem me cumprimentam mais
o hálito de álcool quase doentio
devo morrer de cirrose hepática amanhã - diz-me um médico meu amigo
respiro a chuva de ontem e me rio
resisto ainda e escrevo
só sei fazer isto: escrever
como se escrevendo às três da madrugada
eu pudesse mudar o mundo
tenho um litro de uísque ao lado já pela metade
dois maços de cigarros que me vão matar mais depressa
e um milhão de adultérios que me levarão de volta
à casa da amada que já não existe
se pelo menos eu conseguisse cortar os pulsos
mas me falta coragem nesta hora
quando a rua é deserta
queria sentir pena de mim
mas aos 53 anos isto é quase impossível
dou um trago na bebida
acendo um outro cigarro
e tento escrever um poema
quem sabe o cansaço me vença e eu durma mais tarde
12-02-2010
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Júlio Saraiva,
São Paulo, Brasil
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o ofício do poeta é assim; em certas noites a única luz que surge é a da ponta dos nossos cigarros
ResponderExcluirum abraço daqui
mário
fumando por aqui...
ResponderExcluirabraço.