Pelo menos uma das frases de seus muitos sambas virou locução popular: "dar a volta por cima." Está incorporada no dicionário do Aurélio. Paulo Emílio Vanzolini, o doutor Paulo ou o Paulinho, como se fez conhecido nas rodas boêmias de São Paulo, além do grande compositor que é, fez-se mundialmente conhecido como cientista - é um dos maiores especialistas em anfíbios e répteis. Sem conhecer uma nota de música, compôs Ronda ("De noite, eu rondo a cidade a te procurar...") - talvez a canção mais cantada na noite paulistana. Boêmio inveterado, é uma das figuras, ao lado de Adoniran Barbosa (pseudônimo de João Rubinato) mais queridas de São Paulo. Além de Ronda, escreveu Volta por Cima, Na Boca da Noite (em parceria com Toquinho), Mente (com melodia de Eduardo Gudin) e Capoeira do Arnaldo, com ele mesmo, além de outras tantas.
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J.S.,
São Paulo, Brasil
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NA BOCA DA NOITE
Cheguei na boca da noite
parti de madrugada
eu não disse que ficava
nem você perguntou nada
na hora que eu indo
dormia tão descansada
respiração tão macia
morena nem parecia
que a fronha estava molhada
vi um rosto na janela
parei na beira da estrada
cheguei na boca da noite
parti de madrugada
gente da nossa estampa
não pede jura nem faz
ama e parte não revela
sua guerra sua paz
quando o galo me chamou
parti sem olhar pra trás
porque morena eu sabia
se olhasse não conseguia
sair dali nunca mais
vi um rosto na janela
parei na beira da estrada
cheguei na boca da noite
parti de madrugada
o vento vai pra onde quer
a água corre pro mar
nuvem alta em mão de vento
é o jeito da água voltar
morena se acaso um dia
tempestade te apanhar
não foge da ventania
da chuva que rodopia
sou eu mesmo a te abraçar
vi um rosto na janela
parei na beira da estrada
cheguei na boca da noite
saí de madrugada
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VOLTA POR CIMA
Chorei
não procurei esconder
todos viram
fingiram
pena de mim não precisava
ali onde eu chorei
qualquer um chorava
dar a volta por cima que eu dei
quero ver quem dava
um homem de moral
não fica no chão
nem quer que mulher
lhe venha dar a mão
reconhece a queda
e não desanima
levanta sacode a poeira e dá a volta por cima
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CHORAVA NO MEIO DA RUA
Você diz que eu choro escondido
meu Deus do céu que ingenuidade a sua
se eu tivesse que chorar
chorava no meio da rua
Diga que ainda lhe quero
é verdade
Diga que ainda lhe amo
é também
Mas chorar nem sozinho
e nem na frente de ninguém
Diga que chorei
ninguém vai crer
Todos sabem que eu sou duro
de roer
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Paulo Vanzolini,
São Paulo, Brasil
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