“O universal é o local sem paredes.” (Miguel Torga) "Escrever é um ato de liberdade." (Antônio Callado) "Embora nem todo filho da puta seja censor,todo censor é filho da puta." (Julio Saraiva)

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

POEMA PORTUGUÊS

Ao Poeta Xavier Zarco, meu amigo


vejo-te num café qualquer de coimbra
a conversar com pascoaes e o'neill
mas só as águas do mondego
as paredes do mosteiro de santa clara
e inês de castro envolta em seu xaile
podem escutar o que conversam
eu cá tão distante tento apenas adivinhar
falam do amor e da morte
talvez das viúvas e dos órfãos
falam também de um relógio imaginário
que ao tempo nunca obedeceu

penso que o mundo parou de girar de repente
e as notícias que os jornais tinham prontas
ficaram dois séculos mais velhas
a verdade amigo é que estamos todos mortos
e distraídos não percebemos e continuamos aqui
à mercê do vinho e da poesia
objectos de palavras inúteis que mendigamos
como côdeas de pão amanhecido

à tua frente o'neill está a rir-se
como a debochar do silêncio que cruza
o arco da almedina
à semelhança de uma pomba atordoada
que parece voar sem rumo
uma mulher que não fazia parte do poema surge
aproxima-se de pascoaes e o beija
"Com uns lábios que a terra já desfez." (*)


Madrugada de 14-09-11

(*) Verso do Poema Idílio, de Teixeira Pascoaes

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Júlio Saraiva,
São Paulo, Brasil

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