se eu soubesse inglês palavra que te faria
um poema bem ao estilo de sylvia plath
e depois me matava com gás de cozinha
mas acontece que não sei inglês
perdi muito tempo exigindo liberdade ao meu país
fiz algazarra nas ruas
panfletava de segunda à sexta
deixando os sábados livres para morrer de amor
os domingos não existiam porque a ressaca não permitia
viajar mesmo só viajei nos meus poemas
e com eles aprendi a rezar o latim dos amantes
também fui feliz descobrindo poetas
sempre tive preferência por aqueles que cagaram para a vida
mas eu nunca soube inglês
fiz-me um homem limitado
perdi também o meu tempo acreditando nas estrelas
sem no entanto ouvi-las como bilac
(sempre fui meio surdo)
mas consegui compreender o movimento das marés
que hoje machucam os meus olhos
não tenho mais tempo para saber inglês
e também não vou escrever nenhum poema que lembre sylvia plath
sylvia plath não me interessa mais
eu vou minha poesia fica
como este barco à deriva no mar sem fúria que construí
deixo-te o meu poema que não veio
deixo-te a metade do meu sorriso que perdi num ocaso qualquer
fica contigo toda a minha poesia
faz dela bom uso
se por acaso algum dia a saudade te encher
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Júlio Saraiva,
São Paulo, Brasil
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e eu deixo-te minha admiração pelo despojamento e pela musicalidade que navegam nesse turbilhão de desabafos...
ResponderExcluirperci,
ResponderExcluirobrigado pelo comentário. você tem razão: sempre procurei fazer uma poesia despojada, longe dos ranços antigos.gosto da linguagem mais coloquial possível, sem academicismo. entendo que o poeta não é um deus intocável, isolado em torre de marfim. mas apenas um escritor que escreve diferente.
mais uma vez, sou grato pelo comentário.
j.