tag:blogger.com,1999:blog-47095689898034983672024-03-12T23:24:12.276-03:00CurrupiãoPoesiasJúlio Saraivahttp://www.blogger.com/profile/18350701519993756934noreply@blogger.comBlogger514125tag:blogger.com,1999:blog-4709568989803498367.post-10492095978719200832014-07-10T19:20:00.001-03:002014-07-10T19:20:51.594-03:00PARA ALEXANDRE O´NEILL. Poema de Júlio Saraiva, lido por Vóny Ferreira<iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="344" src="//www.youtube.com/embed/QciYfvcUMMw" width="459"></iframe>Júlio Saraivahttp://www.blogger.com/profile/18350701519993756934noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4709568989803498367.post-2871431471664409422013-02-18T04:09:00.004-03:002013-02-18T04:09:57.705-03:00SONETO ADAPTADO DE UMA CRÔNICA POLICIAL<br />
<br />
<br />
trazia em si a alma triste dos espelhos<br />
e sem ser bela era de todas a mais bela<br />
no rosto pálido nas curvas nos joelhos<br />
no riso triste como a chama de uma vela<br />
<br />
a pouca graça que exibia era só dela<br />
mas seduzia dos mais moços aos mais velhos<br />
graça de moça emoldurada na janela<br />
a mostrar os lábios vermelhos tão vermelhos<br />
<br />
que a tentação se transformou num caso sério<br />
enlouquecido o farmacêutico eleutério<br />
largou família e foi bater na sua porta<br />
<br />
se catarina ou esmeralda pouco importa<br />
o que se sabe é que no fim acabou morta<br />
virou manchete de uma história de adultério<br />
<br />
<br />
18-02-13<br />
<br />
_____________<br />
<em>Júlio Saraiva</em><br />
<em>_____________</em>Júlio Saraivahttp://www.blogger.com/profile/18350701519993756934noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4709568989803498367.post-55799876902761006902013-02-14T15:51:00.001-02:002013-02-14T15:51:24.756-02:00INTERMEZZO<br />
<br />
meus sonhos estão cansados<br />
a possibilidade da trombose me apavora<br />
o coral dos gatos no telhado distrai a madrugada<br />
a esposa do silêncio me deseja<br />
em trajes de adultério ela invade meu quarto<br />
seu rosto noturno é feito de sombras sonâmbulas e seculares<br />
que o tempo não conseguiu dissolver<br />
<br />
no entanto sou um homem do outro século<br />
uma figura antiga divida entre a doença e a cura<br />
correntezas antigas me arrastam para as portas de alguns dias<br />
[que julguei mortos<br />
escravo do que fui padeço do meu passado<br />
sem que os homens que frequentam o mesmo bar da rua abolição<br />
percebam ou sintam a menor compaixão de mim<br />
<br />
<br />
14-02-13<br />
<br />
<br />
____________<br />
<em>Júlio Saraiva</em><br />
<em>____________</em>Júlio Saraivahttp://www.blogger.com/profile/18350701519993756934noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4709568989803498367.post-42581128877949193902013-02-13T14:28:00.001-02:002013-02-13T14:28:13.041-02:00ANTIODE AO MAR<br />
<br />
não gosto do mar<br />
o mar me dá repulsa<br />
não vejo beleza nas ondas<br />
e o cheiro da maresia<br />
me faz enjoar<br />
<br />
mas um dia gostei do mar<br />
não do mar propriamente<br />
mas dos seus mistérios<br />
quando eu cria em mistério<br />
hoje não creio mais não<br />
<br />
os casos de pescadores<br />
as fábulas de sereias<br />
o olhar sonâmbulo<br />
das pedras de um cais<br />
tudo isto me fascinava<br />
no tempo da minha infância<br />
agora só me chateia<br />
<br />
os navios que me chegavam<br />
vindos dos longes mais longe<br />
afundaram todos<br />
e desses naufrágios<br />
- para minha sorte -<br />
não ficou um só sobrevivente<br />
<br />
não me falem do mar<br />
<br />
<br />
13-02-13<br />
<br />
_______________<br />
<em>Júlio Saraiva</em><br />
<em>_______________</em><br />
<br />
Júlio Saraivahttp://www.blogger.com/profile/18350701519993756934noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4709568989803498367.post-6063645449698442212013-02-12T22:22:00.000-02:002013-02-12T22:32:42.451-02:00O POEMA<br />
<br />
o poema descansa num cômodo<br />
desta casa inabitável<br />
foge das palavras frias & gastas<br />
que sem pedir licença insistem<br />
em lhe quebrar o santo sono<br />
<br />
o poema pede sossego apenas<br />
não devemos perturbá-lo com<br />
metáforas & rimas muito menos<br />
casos de amor mal resolvidos<br />
luas de noites passadas em claro<br />
estrelas dos versos de bilac<br />
disto tudo o poema quer distância<br />
<br />
o poema deseja que nos afastemos<br />
levando conosco as vozes declamadoras<br />
o poema deseja apenas o desprezo<br />
dos cemitérios abandonados<br />
das mulheres que perderam a beleza<br />
nas lágrimas choradas pelos maridos<br />
que disseram volto já<br />
mas nunca mais voltaram<br />
<br />
o poema quer ficar longe do poeta<br />
não adianta insistir não adianta<br />
o poema nada tem a dizer ou declarar<br />
amanhã talvez mude de ideia<br />
por enquanto pede apenas que o deixemos<br />
quieto & intocável<br />
em sua absoluta & total solidão de poema<br />
<br />
<br />
12-02-13<br />
<br />
<br />
_________________<br />
<em>Júlio Saraiva</em><br />
<em>_________________</em>Júlio Saraivahttp://www.blogger.com/profile/18350701519993756934noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4709568989803498367.post-54997597889715376992013-02-04T19:11:00.001-02:002013-02-04T19:11:22.876-02:00PEQUENA CENA BRASILEIRA<br />
<br />
na baixada santista<br />
no meio da rua<br />
em quatro minutos<br />
um rapaz foi assassinado<br />
com trinta e sete facadas<br />
por causa de 5 reais<br />
<br />
por causa de 5 reais<br />
com trinta e sete facadas<br />
um rapaz foi assassinado<br />
em quatro minutos<br />
no meio da rua<br />
na baixada santista<br />
<br />
(o assassino fugiu de bicicleta)<br />
<br />
<br />
04-02-13<br />
<br />
______________<br />
<em>Júlio Saraiva</em><br />
<em>______________</em><br />
Júlio Saraivahttp://www.blogger.com/profile/18350701519993756934noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4709568989803498367.post-39494409705640233762012-12-20T06:59:00.001-02:002012-12-20T06:59:17.453-02:00SONETO DAS ETAPAS<br />
<br />
o lúdico que ao vosso corpo ilude<br />
agora na cadeira de balanço<br />
vos traz a infância boa que tão rude<br />
vadiava nua livre e sem ranço<br />
<br />
foi-se o tempo e com ele a juventude<br />
alçou seu voo num rápido avanço<br />
maturidade em sua plenitude<br />
passou breve sem pausa sem descanso<br />
<br />
e na vossa casa enfim a velhice<br />
sem bater entrou nada vos disse<br />
sendo porém a fase derradeira<br />
<br />
cochila com o gato no tapete<br />
e de quando em quando canta em falsete<br />
até que a morte encerre a brincadeira<br />
<br />
<br />
19-12-12<br />
<br />
____________<br />
júlioJúlio Saraivahttp://www.blogger.com/profile/18350701519993756934noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4709568989803498367.post-47452802189549612932012-12-19T08:51:00.005-02:002012-12-19T08:51:41.601-02:00ALERTA SOBRE O POEMA<br />
<br />
água esquecida na bacia<br />
o poema tem alto teor de racumin<br />
afasta-te dele - não chegues perto<br />
porque o risco da tentação<br />
é muito maior do que qualquer cuidado<br />
foge pro teu canto<br />
deixa que uma revista de TV te distraia<br />
o poema é porta aberta para o vício<br />
não percebes que a morte está sempre a rondá-lo?<br />
o encantamento que o poema traz<br />
é pura reinação do demônio que habita em cada um de nós<br />
<br />
<br />
19-12-12<br />
<br />
___________<br />
<em>Júlio Saraiva</em><br />
<em>___________</em>Júlio Saraivahttp://www.blogger.com/profile/18350701519993756934noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4709568989803498367.post-36869967563321719112012-12-16T00:55:00.000-02:002012-12-16T04:07:21.405-02:00VIRAÇÃO (sobre um poema de seféris)<br />
<em><span style="font-size: x-small;"></span></em><br />
<em><span style="font-size: x-small;"></span></em><br />
<em><span style="font-size: x-small;">"Morreram todos a bordo, mas o barco persegue o in-</span></em><br />
<em><span style="font-size: x-small;">tento que desde o porto vem buscando" (*)</span></em><br />
<span style="font-size: x-small;">- Giorgos Seféris -</span><br />
<br />
a algazarra dos marujos mortos<br />
parece ignorar o luto das pedras<br />
setas indicando lugares<br />
que o fim-do-mundo não quis<br />
<br />
dever não cumprido<br />
cheiro forte de maresia<br />
o corpo do poema também jaz frio<br />
no cais<br />
<br />
nada mais a fazer<br />
o barco se despede<br />
e sozinho segue o seu destino<br />
o mar em paz agradece<br />
<br />
<br />
(*) Tradução do grego de José Paulo Paes<br />
<br />
16-12-12<br />
<br />
_____________<br />
<em>Júlio Saraiva</em><br />
<em>_____________</em>Júlio Saraivahttp://www.blogger.com/profile/18350701519993756934noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4709568989803498367.post-89172172982447173792012-12-13T18:12:00.001-02:002012-12-13T18:17:05.557-02:00MARÍA POLIDOÚRI<em></em><br />
<em></em><br />
<strong><em><span style="font-size: x-small;">"Sou a flor roída pouco a pouco por um verme secreto..."</span></em></strong><br />
<strong><em><span style="font-size: x-small;">- María Polidoúri -</span></em></strong><br />
<strong><em><span style="font-size: x-small;"></span></em></strong><br />
<br />
toca-me fundo o teu desespero de noites corroídas<br />
mãos geladas acenando despedidas premeditadas<br />
palavras bêbadas & olhares asfixiados<br />
ruas compridas que iam dar sempre na porta da indigência<br />
atenas com suas traças devorou teu corpo frágil<br />
como se tua carne fosse toda feita de trapos<br />
mais tarde paris foi a confidente que acabou por trair-te<br />
mas nunca percebeste quanto veneno havia no vinho oferecidos<br />
sob as luzes cegas daqueles lugares suspeitos<br />
<br />
toca-me fundo a tua solidão de flores que já nasceram murchas<br />
chuvas de verão que de nada serviam & pesados invernos<br />
outonos que enchiam teu quarto triste de assombrações<br />
as primaveras eram feridas que não iam cicatrizar nunca<br />
todas as estações traziam-te a crua intimidade da morte<br />
no entanto não querias mas um dia foste amada<br />
quando achaste de querer já estavas morta<br />
<br />
<br />
13-12-12<br />
_____________<br />
<em>Júlio Saraiva</em><br />
<em>_____________</em>Júlio Saraivahttp://www.blogger.com/profile/18350701519993756934noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4709568989803498367.post-11675417369102923192012-12-13T00:28:00.000-02:002012-12-13T00:28:23.266-02:00HISTÓRIA DE SANTO<br />
quando lhe morreram os pais<br />
(um se foi atrás do outro)<br />
santo antônio do egito<br />
também dito santo antão<br />
santo ainda não era<br />
talvez nem quisesse ser<br />
deu parte dos bens a irmã<br />
a outra deixou com os pobres<br />
e foi viver no deserto<br />
em oração dia e noite<br />
de vez em quando o demônio<br />
achava de ir perturbá-lo<br />
então a coisa pegava<br />
quebrando a monotonia<br />
assim foi a vida de antônio<br />
assim foi a vida de antão<br />
morreu tinha mais de cem anos<br />
dentro de sua caverna<br />
com os dentes todos perfeitos<br />
<br />
<br />
11-12-12<br />
<br />
________________<br />
<em>Júlio Saraiva</em><br />
<em>________________</em>Júlio Saraivahttp://www.blogger.com/profile/18350701519993756934noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4709568989803498367.post-79169705812822058562012-12-11T02:42:00.002-02:002012-12-11T02:45:52.454-02:00ELEGIA SOBRE OS MEUS DIAS CONTADOS<em></em><br />
<em><span style="font-family: "Courier New", Courier, monospace;">´</span></em><br />
<strong><em><span style="font-family: Courier New;">"De tão lúcido, sinto-me irreal."</span></em></strong><br />
<strong><em><span style="font-family: Courier New;"> - Dante Milano -</span></em></strong><br />
<strong><em><span style="font-family: Courier New;"></span></em></strong><br />
<strong><span style="font-family: Courier New;"></span></strong><br />
<strong><span style="font-family: Courier New;"></span></strong><br />
<strong><span style="font-family: Courier New;">meu barco navega sobre os meus dias contados</span></strong><br />
<strong><span style="font-family: Courier New;">com a calma de quem perdeu o medo do mar</span></strong><br />
<strong><span style="font-family: Courier New;">não careço bússola - deixo-me conduzir pelas estrelas</span></strong><br />
<strong><span style="font-family: Courier New;">e rio por saber-me um homem do passado</span></strong><br />
<strong><span style="font-family: Courier New;"></span></strong><br />
<strong><span style="font-family: Courier New;">como prenda levo a lembrança dos meus mortos</span></strong><br />
<strong><span style="font-family: Courier New;">as muitas bocas que a timidez me impediu beijar</span></strong><br />
<strong><span style="font-family: Courier New;">as lágrimas que guardei e esqueci de derramá-las</span></strong><br />
<strong><span style="font-family: Courier New;">as inoportuníssimas gargalhadas de deboche</span></strong><br />
<strong><span style="font-family: Courier New;">alguns pedidos de desculpa levo comigo também</span></strong><br />
<strong><span style="font-family: Courier New;"></span></strong><br />
<strong><span style="font-family: Courier New;">minha insaciável vontade de beber deixo por aqui</span></strong><br />
<strong><span style="font-family: Courier New;">quem se interessar por ela faça bom proveito</span></strong><br />
<strong><span style="font-family: Courier New;">(pode ser útil nos momentos de vazio absoluto)</span></strong><br />
<strong><span style="font-family: Courier New;">meu livro de sonhos e meu canivete suíço</span></strong><br />
<strong><span style="font-family: Courier New;">meu relógio que parou num meio-dia qualquer</span></strong><br />
<strong><span style="font-family: Courier New;">pensei em deixar mas por capricho mudei de ideia</span></strong><br />
<strong><span style="font-family: Courier New;">pequenos caprichos valem mais que uma fortuna</span></strong><br />
<strong><span style="font-family: Courier New;"></span></strong><br />
<strong><span style="font-family: Courier New;">meu barco navega sobre os meus dias contados</span></strong><br />
<strong><span style="font-family: Courier New;">com a calma de quem perdeu o medo do mar</span></strong><br />
<strong><span style="font-family: Courier New;"></span></strong><br />
<span style="font-family: inherit;"></span><br />
<br />
<strong><span style="font-family: "Courier New", Courier, monospace;">11-12-12</span></strong><br />
<strong><span style="font-family: Courier New;"></span></strong><br />
<span style="font-family: inherit;">____________</span><br />
<em>Júlio Saraiva</em><br />
<em>____________</em><br />
<strong><span style="font-family: Courier New;"></span></strong><br />Júlio Saraivahttp://www.blogger.com/profile/18350701519993756934noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4709568989803498367.post-69287082710706624982012-12-10T04:27:00.004-02:002012-12-10T04:27:40.988-02:00O ENJEITADO<span style="font-family: "Courier New", Courier, monospace;"></span><br />
<span style="font-family: Courier New;"></span><br />
<span style="font-family: Courier New;">na secção de achados & perdidos</span><br />
<span style="font-family: Courier New;">do aeroporto internacional de guarulhos</span><br />
<span style="font-family: Courier New;">jaz um poema de amor ao lado de um par de dentaduras</span><br />
<span style="font-family: Courier New;">a mulher que o lia na sala vip com lágrimas discretas</span><br />
<span style="font-family: Courier New;">de propósito fez deixá-lo na poltrona</span><br />
<span style="font-family: Courier New;">e embarcou num voo noturno para copenhague</span><br />
<span style="font-family: Courier New;"></span><br />
<span style="font-family: Courier New;"></span><br />
<span style="font-family: Courier New;">10-12-12</span><br />
<span style="font-family: Courier New;"></span><br />
<span style="font-family: inherit;">______________</span><br />
<em>Júlio Saraiva</em><br />
<em>______________</em>Júlio Saraivahttp://www.blogger.com/profile/18350701519993756934noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4709568989803498367.post-86014916836708407932012-12-09T13:16:00.003-02:002012-12-09T13:16:32.087-02:00ARMADILHA<span style="font-family: "Courier New", Courier, monospace;"></span><br />
<span style="font-family: Courier New;"></span><br />
<span style="font-family: Courier New;"></span><br />
<span style="font-family: Courier New; font-size: large;"><strong>tenho medo dos olhos </strong></span><br />
<strong><span style="font-family: Courier New; font-size: large;">azuis que não tive...</span></strong><br />
<strong><span style="font-family: Courier New; font-size: large;"></span></strong><br />
<strong><span style="font-family: inherit;"></span></strong><br />
09-12-12<br />
<br />
________________<br />
<em>Júlio Saraiva</em><br />
<em>São Paulo, Brasil</em><br />
<em>_______________</em><br />
<span style="font-family: Courier New; font-size: large;"></span>Júlio Saraivahttp://www.blogger.com/profile/18350701519993756934noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-4709568989803498367.post-72066791136028120922012-12-09T13:09:00.002-02:002012-12-09T13:12:21.759-02:00CRIME PERFEITO<br />
<span style="font-family: "Courier New", Courier, monospace; font-size: large;"><strong></strong></span><br />
<span style="font-family: "Courier New", Courier, monospace; font-size: large;"><strong>pois foi assim - eu vi</strong></span><br />
<strong><span style="font-family: Courier New; font-size: large;">: a moldura engoliu narciso</span></strong><br />
<strong><span style="font-family: Courier New; font-size: large;">& o espelho levou a culpa</span></strong><br />
<br />
<br />
09-12-12<br />
<span style="font-family: inherit;">________________</span><br />
<em>Júlio Saraiva</em><br />
<em>São Paulo, Brasil</em><br />
_______________Júlio Saraivahttp://www.blogger.com/profile/18350701519993756934noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4709568989803498367.post-88802436071464196402012-12-08T23:08:00.000-02:002012-12-08T23:08:10.550-02:00MARCHA-RANCHO<em>"Todos são príncipes e mandarins</em><br />
<em>E ao fim dos festins simples polichinelos..."</em><br />
<em>- Dança de Força -</em><br />
<em>Poema de Paulo César Pinheiro com música de Eduardo Gudin</em><br />
<em></em><br />
<br />
um dia tive medo de adivinhar o mar<br />
para não espetar o coração dos navios<br />
nunca fui alegre - punha-me triste nos parques<br />
minha mãe fazia as vezes e sorria por mim<br />
<br />
então foi que os meus dias me vinham exaustos<br />
uma mulher que guardei no colo da memória<br />
espalhou pela rua toda que eu era poeta<br />
e na minha tolice deu-se pois que acreditei<br />
<br />
não aprendi música porque não quis nunca<br />
mas sempre brinquei de inventar girassóis<br />
qualquer dia desses prometo ir à falência<br />
<br />
(que o dono do botequim não me ouça...)<br />
os foliões desfilam tão alegres lá fora<br />
e eu daqui da janela metido em meu tédio assobio...<br />
<br />
_________________<br />
<em>Júlio Saraiva,</em><br />
<em>São Paulo, Brasil</em><br />
<em>_________________</em><br />
<em></em><br />
<em></em>Júlio Saraivahttp://www.blogger.com/profile/18350701519993756934noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4709568989803498367.post-20462891298280976132012-12-08T06:52:00.001-02:002012-12-08T06:54:10.912-02:00BERCEUSE PARA CRISTIANE<br />
no teu sono macio as palavras respiram<br />
e o meu poema se refaz manso<br />
como a criança encantada do brinquedo<br />
<br />
no teu sono macio a treva desaparece<br />
as minhas luas mortas reagem<br />
e tornam a brilhar num céu sem fim<br />
<br />
no teu sono macio os anjos existem<br />
o tempo impiedoso descansa um pouco<br />
e bocejando ameaça desistir de passar<br />
<br />
no teu sono macio a imaculada canta<br />
e o mundo todo de repente se encolhe<br />
para poder escutar o seu canto de paz<br />
<br />
<br />
<br />
08-12-12<br />
________________<br />
<em>Júlio Saraiva,</em><br />
<em>São Paulo, Brasil</em><br />
<em>_______________</em>Júlio Saraivahttp://www.blogger.com/profile/18350701519993756934noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4709568989803498367.post-26060753882326222322012-12-07T18:54:00.000-02:002012-12-07T18:55:31.223-02:00POEMA<br />
<br />
esgotadas todas as possibilidades de respirar<br />
abro sem medo os meus olhos para a morte<br />
meus barcos pedem paciência aos ventos<br />
a tempestade de um dia agora parece tão calma<br />
o silêncio me ensina o evangelho segundo os peixes<br />
sem querer então me descubro rezando<br />
diante de um altar de algas e espumas<br />
<br />
não sinto cansaço ainda que me falte o ar<br />
e ressuscito memórias velhas mas tão velhas<br />
que me torno menino de novo a correr sem parar<br />
o peso das marés que tenho nas costas não me incomoda<br />
uma gaivota amiga me empresta o seu voo<br />
<br />
<br />
07-12-12<br />
__________________<br />
<em>Júlio Saraiva</em><br />
<em>_________________</em>Júlio Saraivahttp://www.blogger.com/profile/18350701519993756934noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4709568989803498367.post-4456002594352312072012-11-23T14:55:00.001-02:002012-11-23T14:55:03.934-02:00POEMA NUBLADO<br />
<br />
pesava um silêncio roxo de depois da missa<br />
minha avó me levava pela mão à igreja de são geraldo<br />
onde por acaso fui batizado<br />
hoje esbarrando nos sessent'anos<br />
olho o largo padre péricles em perdizes<br />
: a igreja de são geraldo ainda está lá com sua fachada cinza<br />
e em cima do altar-mor o mesmo são geraldo triste segurando um crucifixo<br />
<br />
cônego ulisses salvetti que mancava de uma perna<br />
me batizou em latim - sou do tempo do latim - já morreu<br />
minha avó já morreu e meus pais também<br />
para desgosto de minha avó não fui padre<br />
: conheci mulher muito cedo<br />
mas o cordeiro de deus me espia do alto e me perdoa<br />
pensando bem eu não devia nunca ter sido poeta<br />
: acumulei num só peito de homem todas as dores do mundo<br />
e morri muitas vezes<br />
: o prazer pelo álcool começou muito cedo<br />
<br />
não deixarei herdeiro e nem herança<br />
os sinos de são geraldo tocam as vésperas<br />
já não creio mais que os santos façam milagres<br />
nada mais espero de mim mas sigo<br />
calado como o cristo morto na procissão de sexta-feira santa<br />
minha mulher me olha com ternura<br />
e me diz que amanhã vai fazer tempo melhor<br />
: mesmo nublado eu acredito - a morte passa<br />
<br />
<br />
18-11-12<br />
<br />
__________________<br />
<em>Júlio Saraiva</em><br />
<em>__________________</em>Júlio Saraivahttp://www.blogger.com/profile/18350701519993756934noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4709568989803498367.post-88419358356268402082012-11-05T17:23:00.001-02:002012-11-05T17:23:15.838-02:00SONETO INGLÊS DO MEU TEMPO<em></em><br />
<em>Aos meus pais, em memória.</em><br />
<em></em><br />
<em></em><br />
neste meu tempo triste habita um velho<br />
que por crer na sua fantasia envelheceu<br />
abraçado aos cacos finos do espelho<br />
riu-se da morte que o acaso lhe deu<br />
<br />
seu casarão em tijolos um templo<br />
mas veio outro tempo e mal o sucedeu<br />
e servindo sempre de mau exemplo<br />
escreveu nós onde devia ser eu<br />
<br />
sendo um foram tantos os cadáveres<br />
que de envergonhada a morte enrubesceu<br />
escondida no colo das árvores<br />
quando inda havia campas em mármore<br />
<br />
com seus anjos tristes que a terra comeu...<br />
(quem foi que roubou aquele tempo meu?)<br />
<br />
__________________<br />
<em>Júlio Saraiva</em><br />
<em>___________________</em>Júlio Saraivahttp://www.blogger.com/profile/18350701519993756934noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4709568989803498367.post-13889592307565033002012-11-05T11:28:00.001-02:002012-11-06T10:38:22.774-02:00OS POEMAS DE AMOR MORRERAM...<br />
os poemas de amor morreram<br />
de falência múltipla das palavras<br />
: flores & coroas<br />
não devem ser enviadas<br />
<br />
no princípio era a miopia<br />
mas não ligaram importância<br />
: bastava um par de óculos - não resolveu<br />
depois veio a cegueira irreversível<br />
provocada pelo diabetes<br />
: excesso de açúcar nas palavras<br />
volta não teve mais<br />
<br />
os poemas de amor morreram<br />
pelo bem da poesia & dos poetas que vão nascer<br />
não foi falta de aviso<br />
: rilke já havia alertado<br />
dos perigos dos poemas de amor<br />
<br />
os poemas de amor morreram<br />
: lágrimas são inúteis<br />
os poemas de amor morreram<br />
na mais cruel indigência<br />
nenhum poeta custeou o enterro<br />
nenhum sino dobrou choroso<br />
nenhuma mulher desesperada cortou os pulsos<br />
com a lâmina de barbear do amante<br />
que fugiu para moscou com a trapezista<br />
de um circo-fantasma<br />
nenhum infeliz se atirou da sacada do prédio<br />
de uma repartição pública qualquer<br />
nenhuma adolescente se entupiu de barbitúricos<br />
com bebida ordinária<br />
<br />
os poemas de amor morreram<br />
: <em>- In Paradísum dedúcant vos Angeli</em><br />
<em>Requiéscant in pace."</em><br />
<em></em><br />
<em>_________________</em><br />
<em>Júlio Saraiva</em><br />
<em>__________________</em>Júlio Saraivahttp://www.blogger.com/profile/18350701519993756934noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4709568989803498367.post-37570997634708559952012-10-15T13:36:00.001-03:002012-10-15T13:54:42.201-03:00DOS DEVERES E OBRIGAÇÕES DO POETA<br />
é dever do poeta<br />
repatriar o poema<br />
ao seio da noite<br />
em que foi gerado<br />
<br />
repartir o pão<br />
das palavras com<br />
os que não o têm<br />
é dever do poeta<br />
<br />
dizer não quando<br />
o sim pode ferir o<br />
menor não é dever mas<br />
obrigação do poeta<br />
<br />
é obrigação do poeta<br />
ir à forra em nome de<br />
todos ainda que o inimigo<br />
lhe sangre o verso<br />
<br />
é dever e obrigação<br />
do poeta tocar o barco<br />
ainda que ele corra o <br />
risco de navegar sozinho<br />
<br />
15-10-12_<br />
_____________<br />
<em>Júlio Saraiva</em><br />
<em>______________</em>Júlio Saraivahttp://www.blogger.com/profile/18350701519993756934noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4709568989803498367.post-58962511119669692482012-10-14T03:24:00.002-03:002012-10-14T03:24:36.461-03:00BUCÓLICO<br />
<br />
Um leve sopro de flauta<br />
Um poema que não aconteceu<br />
Uma imagem que bem podia ser<br />
Uma nuvem de poeira<br />
Um anjo<br />
Uma estrela<br />
Uma ilha<br />
<br />
______________<br />
<em>Júlio Saraiva</em><br />
<em>______________</em>Júlio Saraivahttp://www.blogger.com/profile/18350701519993756934noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4709568989803498367.post-82145848334026024402012-10-14T03:20:00.001-03:002012-10-14T03:20:37.008-03:00MÁRMORE<br />
<span style="font-size: large;"></span><br />
<span style="font-size: large;"></span><br />
<span style="font-size: large;"></span><br />
<strong><span style="font-size: large;">A beleza pálida das antigas noivas mortas...</span></strong><br />
<strong></strong><br />
<strong></strong><br />
<strong>_______________</strong><br />
<em>Júlio Saraiva</em><br />
<em>________________</em><br />
<br />
<br />
<br />
Júlio Saraivahttp://www.blogger.com/profile/18350701519993756934noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4709568989803498367.post-47003536578604861172012-10-12T03:52:00.002-03:002012-10-12T03:54:39.815-03:00POEMA OBSCURO<br />
tenho um gosto de cacos de vidro na boca<br />
mas posso ouvir da janela o dobrar dos sinos do convento carmo<br />
teresa de ávila - a grande doutora - não quer ser mais minha amiga<br />
joão da cruz não me recita mais os seus <em>Cânticos</em><br />
teresa de lisieux despreza o meu rosto <br />
e manda dizer que não sou digno das suas rosas<br />
meus santos todos se cansaram de mim<br />
sou um homem sem prece e sem rumo<br />
a caminhar torto pela Rua Direita<br />
<br />
_________________<br />
<em>Júlio Saraiva</em><br />
<em>_________________</em>Júlio Saraivahttp://www.blogger.com/profile/18350701519993756934noreply@blogger.com0