“O universal é o local sem paredes.” (Miguel Torga) "Escrever é um ato de liberdade." (Antônio Callado) "Embora nem todo filho da puta seja censor,todo censor é filho da puta." (Julio Saraiva)

sábado, 23 de julho de 2011

PEQUENA CANÇÃO PARA UMA GRANDE AUSÊNCIA

tua ausência dorme no bolso de um colete cinza-inverno
esquecido na gaveta do meu guarda-roupa
nunca usei colete e mesmo que quisesse usar
este que abriga a tua ausência não me serve mais
eu bem podia livrar-me dele
dá-lo a qualquer um desses homens que vivem na rua
ou mesmo atirá-lo ao lixo
mas se o fizesse o que seria da tua ausência?

todas as manhãs quando abro a gaveta
lá está o colete cinza-inverno
lá está a tua ausência encolhida a exigir
de mim o remorso que não sinto
sofro de gostar de sofrer
e isto é mal que dizem não tem cura
a única solução seria estrangular a memória
mas ainda assim não sei se daria certo

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Júlio Saraiva,
São Paulo, Brasil
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5 comentários:

  1. Júlio, quero um dia ser tão bom escritor como tu o é. Abraços.

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  2. Que beleza de poema!
    Essa grandeza da ausência chega a doer.

    Julio, gostei muito do que li por aqui, neste blog. Costumo apropriar-me de alguns poemas (com os devidos créditos, é claro) em uma página do Flickr onde publico algumas fotos. Permites-me abusar dos teus?
    Marlene

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  3. marlene,
    obrigado pelo comentário. pode usar e abusar do meu poema à vontade, sim. afinal, é para isso que escrevo. minha poesia não é minha, é de todos. já tive poemas meus publicados no Flickr. obrigado por divulgar minha poesia.
    carinho,
    j.

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  4. renan,
    obrigado pelas palavras. mas não sou tudo isso. como qualquer outro escritor, tenho altos e baixos.

    abraço,

    j.

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  5. Querido Poeta,

    Desde que descobri seu blog estou lendo tudo o que posso.
    Estou encantada, com a clareza e força das suas palavras exatas,
    despidas de adornos, que acertam o alvo.

    Hoje, gosto de traduzir esta "Pequena Canção para uma grande Ausência".

    Abraço, Manuela

    PICCOLA CANZONE PER UNA GRANDE ASSENZA

    la tua assenza dorme nella tasca di un gilè grigio-inverno
    dimenticato nel cassetto del mio guardaroba
    non ho mai portato gilè e se pure volessi portarlo
    questo che accoglie la tua assenza non mi serve più
    io potrei anche liberarmene
    darlo a qualcuno di quegli uomini che vivono per strada
    o addirittura buttarlo tra i rifiuti
    ma se lo facessi che ne sarebbe della tua assenza?

    Tutte le mattine quando apro il cassetto
    là sta il gilè grigio-inverno
    là sta la tua assenza ripiegata a esigere
    da me il rimorso che non sento
    soffro del piacere di soffrire
    e questo è un male che dicono non abbia cura
    l’unica soluzione sarebbe strangolare la memoria
    ma anche così non so se funzionerebbe

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