“O universal é o local sem paredes.” (Miguel Torga) "Escrever é um ato de liberdade." (Antônio Callado) "Embora nem todo filho da puta seja censor,todo censor é filho da puta." (Julio Saraiva)

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

O VINHO NA POESIA DA PAULISTANA RENATA PALLOTTINI (*)

A BORDO DA ALMA

Esse vinho, esse vinho, esse vinho vadio!

Reteso a alma no avião de prata
que vai furando o espaço como um bicho.

Se bebêssemos todos, todo o tempo,
que delícia seria!
Sem problemas de fígado,
sem problemas de culpa
sem problemas de medo
sem problemas de vício.

A vida vindo a ser o que devia:
absolutamente agora
sem nenhum
outro dia.

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DE MADRUGADA

A vida é muito dura
pra se levar a seco.
Se os índios mascam coca
sabem eles.

Preferes Coca-Cola?
Preferes o dinheiro?
Preferes fazer compras?
Preferes a vitória?

A gente bebe vinho
e é bom, de madrugada.

É o que se pode fazer
quando não se pode fazer nada.

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AUSÊNCIA

O vinho verte ouro sobre o mar.
Bebe. O corpo é de estanho. Estão distantes
os limões e as azáleas de tua casa
as dores do passado e do presente.

Nada morreu, ninguém partiu e tudo é mel do Himeto.
Esta explosão de fogo não é mais do que o sol.
Bebe. O vinho tem força de delírio
e cura como o aroma dos pinheiros
das idades antigas.

Eu te amo no vinho
te amei na embriaguez.
Bebe. Hoje, como sempre,
amar é a primeira vez.

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(*) Todos os poemas foram tirados do livro
Esse Vinho Vadio (Massao Ohno Editor, São Paulo,
Brasil,1988).


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Renata Pallottini,
São Paulo, Brasil
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