Por que este verbo dito no passado?
Ah, sobejos! Ah, cinzas do que fomos!
A noite a nos oferecer os gomos
O tempo sempre a nos olhar de lado.
O gesto oculto a despertar assomos
Do crime prestes a ser perpetrado;
O olhar covarde, por fim, debruçado
Sobre os retratos que hoje já não somos.
Que nos resta agora senão ver passar
A fria procissão dos nossos ossos?
O cortejo marcha, marcha sem parar...
De repente, saído dos destroços,
Vem um deus antigo, louco, a resmungar:
- Ai pecados meus! Ai pecados vossos!
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Júlio Saraiva,
São Paulo, Brasil
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