“O universal é o local sem paredes.” (Miguel Torga) "Escrever é um ato de liberdade." (Antônio Callado) "Embora nem todo filho da puta seja censor,todo censor é filho da puta." (Julio Saraiva)

domingo, 7 de novembro de 2010

SONETO

Por que este verbo dito no passado?
Ah, sobejos! Ah, cinzas do que fomos!
A noite a nos oferecer os gomos
O tempo sempre a nos olhar de lado.

O gesto oculto a despertar assomos
Do crime prestes a ser perpetrado;
O olhar covarde, por fim, debruçado
Sobre os retratos que hoje já não somos.

Que nos resta agora senão ver passar
A fria procissão dos nossos ossos?
O cortejo marcha, marcha sem parar...

De repente, saído dos destroços,
Vem um deus antigo, louco, a resmungar:
- Ai pecados meus! Ai pecados vossos!

____________________
Júlio Saraiva,
São Paulo, Brasil
____________________

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Compartilhe o Currupião