Currupião
Poesias
quinta-feira, 10 de julho de 2014
segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013
SONETO ADAPTADO DE UMA CRÔNICA POLICIAL
trazia em si a alma triste dos espelhos
e sem ser bela era de todas a mais bela
no rosto pálido nas curvas nos joelhos
no riso triste como a chama de uma vela
a pouca graça que exibia era só dela
mas seduzia dos mais moços aos mais velhos
graça de moça emoldurada na janela
a mostrar os lábios vermelhos tão vermelhos
que a tentação se transformou num caso sério
enlouquecido o farmacêutico eleutério
largou família e foi bater na sua porta
se catarina ou esmeralda pouco importa
o que se sabe é que no fim acabou morta
virou manchete de uma história de adultério
18-02-13
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Júlio Saraiva
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quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013
INTERMEZZO
meus sonhos estão cansados
a possibilidade da trombose me apavora
o coral dos gatos no telhado distrai a madrugada
a esposa do silêncio me deseja
em trajes de adultério ela invade meu quarto
seu rosto noturno é feito de sombras sonâmbulas e seculares
que o tempo não conseguiu dissolver
no entanto sou um homem do outro século
uma figura antiga divida entre a doença e a cura
correntezas antigas me arrastam para as portas de alguns dias
[que julguei mortos
escravo do que fui padeço do meu passado
sem que os homens que frequentam o mesmo bar da rua abolição
percebam ou sintam a menor compaixão de mim
14-02-13
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Júlio Saraiva
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quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013
ANTIODE AO MAR
não gosto do mar
o mar me dá repulsa
não vejo beleza nas ondas
e o cheiro da maresia
me faz enjoar
mas um dia gostei do mar
não do mar propriamente
mas dos seus mistérios
quando eu cria em mistério
hoje não creio mais não
os casos de pescadores
as fábulas de sereias
o olhar sonâmbulo
das pedras de um cais
tudo isto me fascinava
no tempo da minha infância
agora só me chateia
os navios que me chegavam
vindos dos longes mais longe
afundaram todos
e desses naufrágios
- para minha sorte -
não ficou um só sobrevivente
não me falem do mar
13-02-13
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Júlio Saraiva
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terça-feira, 12 de fevereiro de 2013
O POEMA
o poema descansa num cômodo
desta casa inabitável
foge das palavras frias & gastas
que sem pedir licença insistem
em lhe quebrar o santo sono
o poema pede sossego apenas
não devemos perturbá-lo com
metáforas & rimas muito menos
casos de amor mal resolvidos
luas de noites passadas em claro
estrelas dos versos de bilac
disto tudo o poema quer distância
o poema deseja que nos afastemos
levando conosco as vozes declamadoras
o poema deseja apenas o desprezo
dos cemitérios abandonados
das mulheres que perderam a beleza
nas lágrimas choradas pelos maridos
que disseram volto já
mas nunca mais voltaram
o poema quer ficar longe do poeta
não adianta insistir não adianta
o poema nada tem a dizer ou declarar
amanhã talvez mude de ideia
por enquanto pede apenas que o deixemos
quieto & intocável
em sua absoluta & total solidão de poema
12-02-13
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Júlio Saraiva
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segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013
PEQUENA CENA BRASILEIRA
na baixada santista
no meio da rua
em quatro minutos
um rapaz foi assassinado
com trinta e sete facadas
por causa de 5 reais
por causa de 5 reais
com trinta e sete facadas
um rapaz foi assassinado
em quatro minutos
no meio da rua
na baixada santista
(o assassino fugiu de bicicleta)
04-02-13
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Júlio Saraiva
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quinta-feira, 20 de dezembro de 2012
SONETO DAS ETAPAS
o lúdico que ao vosso corpo ilude
agora na cadeira de balanço
vos traz a infância boa que tão rude
vadiava nua livre e sem ranço
foi-se o tempo e com ele a juventude
alçou seu voo num rápido avanço
maturidade em sua plenitude
passou breve sem pausa sem descanso
e na vossa casa enfim a velhice
sem bater entrou nada vos disse
sendo porém a fase derradeira
cochila com o gato no tapete
e de quando em quando canta em falsete
até que a morte encerre a brincadeira
19-12-12
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júlio
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