terça-feira, 12 de fevereiro de 2013
O POEMA
o poema descansa num cômodo
desta casa inabitável
foge das palavras frias & gastas
que sem pedir licença insistem
em lhe quebrar o santo sono
o poema pede sossego apenas
não devemos perturbá-lo com
metáforas & rimas muito menos
casos de amor mal resolvidos
luas de noites passadas em claro
estrelas dos versos de bilac
disto tudo o poema quer distância
o poema deseja que nos afastemos
levando conosco as vozes declamadoras
o poema deseja apenas o desprezo
dos cemitérios abandonados
das mulheres que perderam a beleza
nas lágrimas choradas pelos maridos
que disseram volto já
mas nunca mais voltaram
o poema quer ficar longe do poeta
não adianta insistir não adianta
o poema nada tem a dizer ou declarar
amanhã talvez mude de ideia
por enquanto pede apenas que o deixemos
quieto & intocável
em sua absoluta & total solidão de poema
12-02-13
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Júlio Saraiva
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