trago no bolso de uma calça velha
num guardanapo de papel anotações
para um poema só com palavras mortas
vítimas de ataque de desuso
não sei quando e nem se vou terminar o poema
no entanto todas as madrugadas
levanto-me e vou ao cemitério dos alfarrábios
chorar lágrimas de letras por essas palavras mortas
vítimas de ataque de desuso
toda vez que choro essas palavras mortas
sinto que elas me acenam com mãos de condolências
e eu digo que sinto muito mas deixo como garantia
minha palavra - o poema qualquer dia sai
trago no bolso de trás de uma calça velha
num guardanapo de papel anotações
com palavras antigas que amanhã ou depois
me vão matar também e eu não vou poder fazer nada
a não ser morrer calado por ataque de desuso
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Júlio Saraiva,
São Paulo, Brasil
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