viveu ser-
vil
entre o quin-
quênio
& a licença-
prêmio
agora
duas vezes apo-
sentado
não parte só
leva consigo
por-favor-pois-não
muito obrigado
mais a gravata
&
o paletó
___________________
Júlio Saraiva,
São Paulo, Brasil
___________________
sábado, 16 de abril de 2011
sexta-feira, 15 de abril de 2011
RETRATO
pareço-me comigo cada vez menos
15-04-1
________________
Júlio Saraiva,
São Paulo, Brasil
________________
15-04-1
________________
Júlio Saraiva,
São Paulo, Brasil
________________
quinta-feira, 14 de abril de 2011
SONETO ATORMENTADO
navegam em mim barcos assustados
não sei de quantos naufrágios vieram
e nem como foram dar onde deram
guiados por ventos atormentados
ao leme seus capitães são fantasmas
tristes pois já não sabem mais assombrar
e têm as órbitas dos olhos pasmas
porque morrem todos de medo do mar
não bebem não fumam nem jogam cartas
suas mulheres morreram nos portos
pra que tanta não fosse a tripulação
os filhos também estão todos mortos
as histórias dantes que eram tão fartas
dormiram pra sempre em cada capitão
14-04-11
________________
Júlio Saraiva,
São Paulo, Brasil
________________
não sei de quantos naufrágios vieram
e nem como foram dar onde deram
guiados por ventos atormentados
ao leme seus capitães são fantasmas
tristes pois já não sabem mais assombrar
e têm as órbitas dos olhos pasmas
porque morrem todos de medo do mar
não bebem não fumam nem jogam cartas
suas mulheres morreram nos portos
pra que tanta não fosse a tripulação
os filhos também estão todos mortos
as histórias dantes que eram tão fartas
dormiram pra sempre em cada capitão
14-04-11
________________
Júlio Saraiva,
São Paulo, Brasil
________________
POEMA QUALQUER PARA UM DIA QUALQUER
descolorir
o tempo & rasgar
as vestes
que nos tornam o corpo
prisioneiro
de antigas vergonhas
descobrir
os atalhos que nos vão
levar
ao limbo onde dormem
as coisas
sem nenhuma importância
13-04-11
__________________
Júlio Saraiva,
São Paulo, Brasil
__________________
o tempo & rasgar
as vestes
que nos tornam o corpo
prisioneiro
de antigas vergonhas
descobrir
os atalhos que nos vão
levar
ao limbo onde dormem
as coisas
sem nenhuma importância
13-04-11
__________________
Júlio Saraiva,
São Paulo, Brasil
__________________
quarta-feira, 13 de abril de 2011
PEÇA DE ANTIQUÁRIO
o espelho
diz que o meu rosto
está com prazo
de validade vencido
se o espelho
diz
dito está
e não se discute
guardo
os meus dias azuis
numa caixa
de sapatos como se fos-
sem fotografias tiradas
num velho
estúdio de bairro
acontece
que os dias azuis
estão amarelados
percebo
que tenho vocação
para a velhice
resignado
saio a percorrer
antiquários
para saber quanto dão
por um rosto
em bom estado e quase puro
(o espelho deixo como garantia)
13-04-11
___________________
Júlio Saraiva,
São Paulo, Brasil
___________________
diz que o meu rosto
está com prazo
de validade vencido
se o espelho
diz
dito está
e não se discute
guardo
os meus dias azuis
numa caixa
de sapatos como se fos-
sem fotografias tiradas
num velho
estúdio de bairro
acontece
que os dias azuis
estão amarelados
percebo
que tenho vocação
para a velhice
resignado
saio a percorrer
antiquários
para saber quanto dão
por um rosto
em bom estado e quase puro
(o espelho deixo como garantia)
13-04-11
___________________
Júlio Saraiva,
São Paulo, Brasil
___________________
segunda-feira, 11 de abril de 2011
DESPEJO
"É uma ordem superior..."
- Do samba Despejo na Favela, de Adoniran Barbosa -
fogão fogareiro
geladeira colchão
papagaio
gaiola galinha
cachorro criança
madeira no chão
foto de casamento
lembrança de aparecida
dia santo folhinha
prato panela
penico
piolho piorra
madeira no chão
um poster do time
uma faca sem crime
a ferrugem nos olhos
uma rosa de pano
um maço de velas
madeira no chão
uma lata um luto
uma lua de lama
relógio parado
carrinho de mão
madeira no chão
madeira no chão
madeira no chão
madeira no chão
madeira no chão
madeira
no
chão
madeira madeira
conflito confronto
comando comício
polícia polícia
madeira madeira
madeira caixote
caixote caixão
um rosário uma reza
vinte salve-rainhas
salve-se-quem-puder
um tiro cem tiros
cinco vidas perdidas
um soluço um silêncio
cinco corpos no chão
chão
_______________
Júlio Saraiva,
São Paulo, Brasil
________________
- Do samba Despejo na Favela, de Adoniran Barbosa -
fogão fogareiro
geladeira colchão
papagaio
gaiola galinha
cachorro criança
madeira no chão
foto de casamento
lembrança de aparecida
dia santo folhinha
prato panela
penico
piolho piorra
madeira no chão
um poster do time
uma faca sem crime
a ferrugem nos olhos
uma rosa de pano
um maço de velas
madeira no chão
uma lata um luto
uma lua de lama
relógio parado
carrinho de mão
madeira no chão
madeira no chão
madeira no chão
madeira no chão
madeira no chão
madeira
no
chão
madeira madeira
conflito confronto
comando comício
polícia polícia
madeira madeira
madeira caixote
caixote caixão
um rosário uma reza
vinte salve-rainhas
salve-se-quem-puder
um tiro cem tiros
cinco vidas perdidas
um soluço um silêncio
cinco corpos no chão
chão
_______________
Júlio Saraiva,
São Paulo, Brasil
________________
quarta-feira, 6 de abril de 2011
BOCAGE DO BIXIGA
saudades antigas moram comigo
não sabes o saco que é senti-las
ferem-me os pés também o umbigo
não perdoam nem minhas axilas
vais de mojito vou de pinga pura
fígado revira cabeça explode
deus-nos-acuda já não nos acode
puta-que-pariu! como que se cura
esta dor-de-corno que me põe tão mal?
nanda que sempre me quebrava o galho
tornou-se budista foi para o nepal
ana se casou com leonel de tal
cris foi morar na casa do caralho
quem disse que saudade não tem plural?
___________________
Júlio Saraiva,
São Paulo, Brasil
___________________
não sabes o saco que é senti-las
ferem-me os pés também o umbigo
não perdoam nem minhas axilas
vais de mojito vou de pinga pura
fígado revira cabeça explode
deus-nos-acuda já não nos acode
puta-que-pariu! como que se cura
esta dor-de-corno que me põe tão mal?
nanda que sempre me quebrava o galho
tornou-se budista foi para o nepal
ana se casou com leonel de tal
cris foi morar na casa do caralho
quem disse que saudade não tem plural?
___________________
Júlio Saraiva,
São Paulo, Brasil
___________________
*************
o olho triste do boto
deu um salto rosa-choque
a chuva se desmanchou em sombrinhas
a tarde vestiu seu melhor sorriso de noiva
a se arcoirisou ao leste do meu nariz
_________________
Júlio Saraiva,
São Paulo, Brasil
_________________
deu um salto rosa-choque
a chuva se desmanchou em sombrinhas
a tarde vestiu seu melhor sorriso de noiva
a se arcoirisou ao leste do meu nariz
_________________
Júlio Saraiva,
São Paulo, Brasil
_________________
sábado, 2 de abril de 2011
ALGUNS POEMAS DE ROSANGELA BORGES (*)
1.
o olhar verde
daquela menina
despertou em mim
o medo do holocausto
2.
um pássaro
voa
acima dos prédios
ele é todo liberdade
eu não
- ando presa no amor
3.
sapatos na vitrine
calçam
meus sonhos
4.
lágrimas de ácido desmancham
aquela boneca da Estrela
destruída dentro de mim
5.
a saudade inunda
o anoitecer da tua bunda
6.
acordou às cinco. às seis rezou no parque. às dez
enfrentou fila no banco. conformada, voltou ao apar-
tamento, conferindo o dinheiro. quieta, meteu-se em
tarefas domésticas. foi aí que se lembrou de Teresa
de Ávila - a doutora da Igreja, atormentada em suas
reflexões místicas: "Deus está presente até nas pa-
nelas..."
nas panela, ela disse consigo enquanto engolia o almoço
de quiabo com carne.
"Deus está presente até nas panelas..."
tardezinha, escutou confissões atormentadas, deu conse-
lhos. profanou. sentiu vontade de rezar, como de manhã.
mas não voltou ao velho Livro de Horas, cheio de culpas
e arrependimentos, que jazia sobre o criado-mudo.
quis rezar, sim. por isso, foi à estante e apanhou Garcia
Márquez, o seu anjo Gabriel. bebeu frases, imagens, sen-
tiu comichões na alma e compreendeu pela primeira vez a
rigidez da vida extramuros.
_____________________________________
Rosangela Borges,
São Paulo, Brasil, é antropóloga, jornalista e es-
critora. Publicou os livros Axé, Madona Achiropi-
ta - A Presença dos Cultos Afrobrasileiros nas Ce-
lebraçõesCatólicas na Igreja Nossa Senhora Achiropi-
ta (disssertação de mestrado em Ciências da Religião);
Quem Quer Teclar Comigo - Adolescendo na Inter-
net (novela infanto-juvenil ) e O Guardião dos Ven-
tos (poemas). Rosangela vive atualmente em Portugal,
fazendo pós-doutorado na Universidade de Coimbra.
o olhar verde
daquela menina
despertou em mim
o medo do holocausto
2.
um pássaro
voa
acima dos prédios
ele é todo liberdade
eu não
- ando presa no amor
3.
sapatos na vitrine
calçam
meus sonhos
4.
lágrimas de ácido desmancham
aquela boneca da Estrela
destruída dentro de mim
5.
a saudade inunda
o anoitecer da tua bunda
6.
acordou às cinco. às seis rezou no parque. às dez
enfrentou fila no banco. conformada, voltou ao apar-
tamento, conferindo o dinheiro. quieta, meteu-se em
tarefas domésticas. foi aí que se lembrou de Teresa
de Ávila - a doutora da Igreja, atormentada em suas
reflexões místicas: "Deus está presente até nas pa-
nelas..."
nas panela, ela disse consigo enquanto engolia o almoço
de quiabo com carne.
"Deus está presente até nas panelas..."
tardezinha, escutou confissões atormentadas, deu conse-
lhos. profanou. sentiu vontade de rezar, como de manhã.
mas não voltou ao velho Livro de Horas, cheio de culpas
e arrependimentos, que jazia sobre o criado-mudo.
quis rezar, sim. por isso, foi à estante e apanhou Garcia
Márquez, o seu anjo Gabriel. bebeu frases, imagens, sen-
tiu comichões na alma e compreendeu pela primeira vez a
rigidez da vida extramuros.
_____________________________________
Rosangela Borges,
São Paulo, Brasil, é antropóloga, jornalista e es-
critora. Publicou os livros Axé, Madona Achiropi-
ta - A Presença dos Cultos Afrobrasileiros nas Ce-
lebraçõesCatólicas na Igreja Nossa Senhora Achiropi-
ta (disssertação de mestrado em Ciências da Religião);
Quem Quer Teclar Comigo - Adolescendo na Inter-
net (novela infanto-juvenil ) e O Guardião dos Ven-
tos (poemas). Rosangela vive atualmente em Portugal,
fazendo pós-doutorado na Universidade de Coimbra.
Assinar:
Postagens (Atom)